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Resistência – “Pedro Ayres De Magalhães Fala Do Seu Novo Projecto – ‘Resistência Enquanto Houver Corrente'”

Secção Cultura Sexta-Feira, 15.11.1991


Pedro Ayres De Magalhães Fala Do Seu Novo Projecto
“Resistência Enquanto Houver Corrente”


Resistência é o novo projecto poético-musical idealizado por Pedro Ayres de Magalhães. O objectivo é a “oferta à língua portuguesa de um novo formato musical”. Passadas duas décadas sobre a “canção de protesto”, volta a falar-se de “mensagem”.



Resistência é o super-grupo nacional da década de 90 e junta nas suas fileiras os músicos Miguel Ângelo e Fernando Cunha (Delfins), Dudas, Alexandre Frazão (tocou com Sérgio Godinho), Fernando Júdíce (Trovante), Fredo Mergner, Olavo e Tim (Xutos & Pontapés).
O resultado desta associação poderá ser apreciado no duplo álbum “Liberdade”, com edição prevista para o mês de Dezembro na editora BMG, ou nos próximos dias 29 e 30, ao vivo, nos “Encontros de Música” dos Festivais de Lisboa. O disco reúne versões de canções antigas das bandas às quais pertenceram ou pertencem os actuais músicos da Resistência e um original, “Liberdade”, escrito e composto por Pedro Ayres de Magalhães.
“Desalinhados” e “No Meu Quarto”, dos Delfins, “Circo de Feras” e “Eu Não Sou O Único”, dos Xutos & Pontapés, e “Fado” dos Heróis do Mar, fazem parte desse lote de canções que foram apresentadas anteontem à tarde em Lisboa.
O conceito de “álbum de versões” mostra que os Resistência estão atentos às novas tendências da produção “pop” estrangeira. Para Pedro Ayres Magalhães, ideólogo do novo projecto, “as letras e a sua mensagem são o mais importante”.
Mensagem que constitui o principal elo capaz de manter unidos, músicos de experiências musicais tão diversas – “foram convidadas as pessoas com temperamento mais apaixonado”. Mas, como o poeta e músico dos Madredeus faz questão de frisar, “o próximo projecto editorial da Resistência pode já não ser com este grupo.”
Quanto às letras das canções, têm em comum “pugnarem por duas ou três questões importantes: o espírito de aventura, a disposição poética, a consideração da distância de que fala o fado, a solidão”. No fundo “divulgar palavras. Divulgar sentidos” – objectivo prioritário de quem “durante toda a vida” se dedicou à “divulgação e oderta à língua portuguesa de um formato musical diferente”.
Resistentes do rock português? Não se trata apenas de uma noção de combate: “Não somos contra, mas uma coisa afirmativa. Da mesma forma que um filamento de lâmpada, que é uma resistência, permanece aceso se houver corrente.” Quando muito, interprete-se o nome como a “contra-corrente de um estado actual da música e das mentalidades no nosso país. É uma atitude agressiva contra a estagnação.”
Escutada parte do disco fica a impressão de um regresso ao chamado “boom” do rock português, mesmo quando os arranjos procuram a diferença. “Há neste disco uma ideia do que foi a música das bandas de Rock a partir dos anos 60.” Predomina o som das guitarras, o que de algum modo contribuio para essa sensação de recuo no passado, até à época em que uma boa melodia era o principal. Se “o meio é a mensagem”, como refere Pedro Ayres, citando McLuhan, o que é lícito concluir desta ideia de resistência?
Adivinha-se a resposta quando o principal mentor defende que “só faz sentido editar aquilo que realmente chega ao maior número de pessoas. Só assim as canções se realizam. Deve haver sempre a preocupação de escolher uma linguagem que seja do interesse das pessoas. Ou da ideia que temos das pessoas”.
No caso de Pedro Ayres de Magalhães, que prepara para Outubro do próximo ano a nova “saga” de concertos dos Madredeus, já convidados para o “Printemps de Bourges”, e para quem “o sentido do futuro não pode ser outro senão o da participação”, o propósito é simples: “fazer música em vez de me andar a chatear com ocupações desinteressantes.”

Madredeus – “‘Existir’ Para A Europa”

Cultura >> Domingo, 22.03.1992


“Existir” Para A Europa

Sexta-Feira, no Teatro Ibérico, em Lisboa, os Madredeus actuaram para uma plateia de convidados, numa operação de “charme” aos vários executivos de diversas delegações europeias da EMI presentes, com o objectivo de uma hipotética edição do álbum “Existir” no estrangeiro.
Para Teresa Ribeiro, Pedro Ayres de Magalhães, Rodrigo Leão, Francisco Ribeiro e Gabriel Gomes foi também o regresso ao local de ensaios e gravação dos “Dias da Madredeus”, disco com que se estrearam no mercado discográfico nacional: uma divisória de um antigo convento, responsável em grande parte pelo ambiente e orientação estética do projecto.
Cerca de 45 minutos de música que em alguns momentos roçou o sublime – devem ter chegado para convencer os homens de negócios. De postura sóbria, quase de recolhimento, os cinco músicos projectaram os sons até à cúpula do recinto, aproveitando a sua acústica para melhor acentuar o carácter religioso da maior parte das canções. O início, um dueto vocal de Teresa Salgueiro e Francisco Ribeiro evocativo do cântico gregoriano, deu o tom ao concerto, que evitou temas mais extrovertidos como “O Ladrão” para se centrar numa solenidade que poderíamos definir como “fado de câmara”.
“O Navio”, “Cuidado”, “O Pomar das Laranjeiras”, “Vaca de Fogo” e o instrumental “As Ilhas dos Açores”, entre outros títulos dos Madredeus, serviram de igual forma para demonstrar a capacidade dos seus membros em recriarem e remodelarem, em cada concerto, os arranjos. Da voz e da presença, ao mesmo tempo angelical e fadista, de Teresa Salgueiro, nunca é demais repetir que não tem rival no actual panorama da moderna música portuguesa. Modernidade que no caso dos Madredeus se funda na Eternidade.
Os Madredeus existem para navegar. A partir de agora talvez também no inconsciente de uma Europa à procura de outro mar.

Madredeus – “‘Existir’ Para A Europa”

Cultura >> Domingo, 22.03.1992


“Existir” Para A Europa

Sexta-Feira, no Teatro Ibérico, em Lisboa, os Madredeus actuaram para uma plateia de convidados, numa operação de “charme” aos vários executivos de diversas delegações europeias da EMI presentes, com o objectivo de uma hipotética edição do álbum “Existir” no estrangeiro.
Para Teresa Ribeiro, Pedro Ayres de Magalhães, Rodrigo Leão, Francisco Ribeiro e Gabriel Gomes foi também o regresso ao local de ensaios e gravação dos “Dias da Madredeus”, disco com que se estrearam no mercado discográfico nacional: uma divisória de um antigo convento, responsável em grande parte pelo ambiente e orientação estética do projecto.
Cerca de 45 minutos de música que em alguns momentos roçou o sublime – devem ter chegado para convencer os homens de negócios. De postura sóbria, quase de recolhimento, os cinco músicos projectaram os sons até à cúpula do recinto, aproveitando a sua acústica para melhor acentuar o carácter religioso da maior parte das canções. O início, um dueto vocal de Teresa Salgueiro e Francisco Ribeiro evocativo do cântico gregoriano, deu o tom ao concerto, que evitou temas mais extrovertidos como “O Ladrão” para se centrar numa solenidade que poderíamos definir como “fado de câmara”.
“O Navio”, “Cuidado”, “O Pomar das Laranjeiras”, “Vaca de Fogo” e o instrumental “As Ilhas dos Açores”, entre outros títulos dos Madredeus, serviram de igual forma para demonstrar a capacidade dos seus membros em recriarem e remodelarem, em cada concerto, os arranjos. Da voz e da presença, ao mesmo tempo angelical e fadista, de Teresa Salgueiro, nunca é demais repetir que não tem rival no actual panorama da moderna música portuguesa. Modernidade que no caso dos Madredeus se funda na Eternidade.
Os Madredeus existem para navegar. A partir de agora talvez também no inconsciente de uma Europa à procura de outro mar.