Pop Rock
25 de Maio de 1994
WORLD
ETNO-FOTOGRÁFICO
LOKUA KANZA
Lokua Kanza
Lokua, import. Contraverso
Natural do Zaire, Lokua Kanza fez na juventude parte de um coro, tocou “rumba” zairense e só depois efectuou estudos de solfejo e guitarra clássica. Aprendeu com os anciões as velhas técnicas de canto tradicional, passou pela Costa do Marfim para por fim aterrar em Paris, França, pátria europeia da música africana. Tocou guitarra com Ray Lema e fez parte do coro em “Le Voyageur”, de Papa Wemba. Até ao ano passado, foi vocalista na banda de Manu Dibango, os Soul Makossa Gang.
“Lokua Kanza” constitui a estreia discográfica deste cantor e é já uma das boas surpresas da música africana deste ano. A voz de Lokua Kanza tem características que a distinguem dos timbres com “vibrato” acentuado que caracterizam grande parte dos cantores africanos. Geoffrey Oryema será, dos nomes mais conhecidos, aquele cujo canto lhe estará mais próximo. Mas a música de Lokua Kanza possui algo mais – uma simplicidade e uma depuração exemplares, que emprestam a este álbum uma limpidez e pureza deslumbrantes. A voz (por vezes multiplicada em “multi-tracking”), as percussões, a guitarra e utensílios domésticos variados formam o suporte perfeito para as vocalizações voarem sem restrições. Pequenas fotografias ambientais alternam com esboços “naїf”, entre o minimalismo e as invocações rituais. “Juste un peu d’amour” é um hino e um convite à dança dos pássaros. “Boto” é uma clareira de luz filtrada pelas transparências e os sopros rítmicos no gargalo de garrafas. Há um ponto de passagem, algo de comum (“Juste un peu d’amour”, “Kunze”) entre este disco e o recente “Sabsylma” das Zap Mama, independentemente da raiz comum que é o Zaire. Ambos retratam a aura colorida do continente africano, desenhando os seus contornos no corpo fantasmagórico de uma fotografia Kirlian. (8)