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Lá Lugh – “Duo Irlandês Em Digressão Pelo Norte Do País – Deus Pagão Em Circuito Integrado”

Cultura >> Quarta-Feira, 04.03.1992


Duo Irlandês Em Digressão Pelo Norte Do País
Deus Pagão Em Circuito Integrado


Os espectáculos dos irlandeses Lá Lugh agendados para quatro cidades do Norte do país integram-se no “circuito” de concertos regulares com que a “Etnia” se propõe aprofundar o conceito de uma “Europa” unida pela diversidade cultural. Prova de que, entre nós, há quem veja na música tradicional mais do que um simples fenómeno revivalista.



De há dois anos para cá os “Encontros Musicais da Tradição Europeia” prosseguem a sua viagem de reunificação entre actualidade e tradição. Entre o princípio e o fim e de novo o princípio. Encontros que, no interregno desses rituais maiores, se animam no convívio íntimo com as populações locais. Em “circuitos” fraternos por esse Portugal fora visando “celebrar” ou incentivar um europeísmo assente na valorização da grande diversidade de culturas que coexistem no nosso “velho continente”, como é intenção da entidade organizadora, a “Etnia”, uma cooperativa cultural do Norte, com sede em Caminha.
Assim, amanhã, na Guarda, actuam os irlandeses Lá Lugh, duo constituído por Gerry O’Connor (rabeca) e pela vocalista / flautista Eithne Ni Ualacháin, que devem a designação à divindade celta Lug ou Lugh, o deus das “mãos grandes”, neto de Balor, “Olho-do-diabo” e pai do herói irlandês Cuchulainn, cuja saga “Tain Bo Cuailnge” constitui um dos esteios da mitologia e do futuro por cumprir da Irlanda ancestral. Os Lá Lugh deslocam-se no dia seguinte, sexta-feira, a Guimarães. Para concluírem esta série de espectáculos pelo Norte do país, estarão no sábado em Viana do Castelo e, domingo, no Porto. Acompanham os Lá Lugh, nestes quatro espectáculos, os músicos convidados Garry O’Brian (mandocello, viola de arco, piano) e Seanie McPhail (guitarra).

Dinamização Cultural Descentralizada

Responsável pela vinda a Portugal, nos últimos anos, de nomes importantes da folk actual como Perlinpinpin Folk, Jean Blanchard, Andrew Cronshaw, Sileas, Altan, Manuel Luna, Rosa Zaragozza, La Ciapa Rusa, Milladoiro ou mais recentemente Nigel Eaton (ex-Blowzabella), a Etnia tem apostado, e bem, numa política de dinamização cultural descentralizada que, promovendo o “contacto e intercâmbio entre grupos ou solistas ligados à música tradicional e popular das várias regiões europeias”, pretende, numa escala mais alargada, uma “maior interligação entre as distintas linguagens musicais típicas dessas regiões” e, no âmbito da divulgação, a “criação de formas e estruturas de coordenação permanente”. Estratégia cultural onde estes “circuitos” se integram de forma exemplar.
Recém-chegados à cena folk internacional, os Lá Lugh (cuja estreia discográfica acaba de ser importada, no formato CD, pela VGM) contam nas suas fileiras com dois nomes que já deram provas neste campo. Gerry O’Connor tocou com a vocalista Dolores Keane (passagem meteórica pelos De Danann), com Jack Daly, ex-De Danann, e Patrick Street. Alia, na sua técnica instrumental, o virtuosismo técnico a uma correcta articulação dos “modos tradicionais” como são praticados no condado de Sligo, na costa Oeste da Irlanda, um dos grandes viveiros de violinistas tradicionais do país.
Nascida no seio de uma família tradicional irlandesa onde a utilização do gaélico era prática corrente, discípula de mestres como Paddy Tunney e Mary Ann Carolan, Eithe Ni Uallachain, para além de reputada flautista, interpreta um vastíssimo reportório de canções naquela língua milenária recolhidas da região do Donegal ou do Sudoeste da Irlanda do Norte, de onde é originária. Registe-se ainda a participação, nos concertos portugueses, de Garry O’Briain que alguns conhecerão dos Buttons & Bows, especialistas na utilização de instrumentos de cordas. Ritual da Primavera presidido por Lugh à entrada Ocidental do Templo.