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Kodo & Isao Tomita – “Nasca Fantasy”

Pop Rock

26 de Abril de 1995
álbuns world

TAMBORES NO ESPAÇO

KODO & ISAO TOMITA
Nasca Fantasy (7)

Columbia, distri. Sony Music


kodo

“Kodo” significa “batida cardíaca”, no sentido de batida primordial, mãe de todos os ritmos. O grupo de percussões japonês com o mesmo nome* terá provocado alguns ataques cardíacos na memorável actuação que deu há dois anos nos claustros dos Jerónimos. Os Kodo têm a sua sede na ilha de Sado, onde todos os anos, durante três dias de Verão, se realiza um festival de percussões, “Earth Celebration”, em louvor do planeta, ao qual acorrem artistas oriundos de vários pontos do globo. “Nasca Fantasy” difere um pouco dos anteriores álbuns do grupo, não tanto pela temática abordada – os desenhos de origem desconhecida gravados na paisagem da região com este nome localizada no Peru – mas pelas participações de Isao Tomita, nos sintetizadores e computador, e do grupo tradicional peruano Kusillaqta. Assim, em vez do clamor percussivo, a música resulta em algo bastante mais próximo das contemplações “new age” do que da música tradicional ou da postura “zen” que caracteriza, em condições “normais”, a abordagem sonora dos Kodo. Isao Tomita, um especialista em versões electrónicas de composições clássicas (das quais, “The Planets”, de Holst, e “Firebird”, de Stravinsky, são as mais conseguidas), distingue-se de um Vangelis ou do seu compatriota Kitaro, pelo bom-gosto que coloca nos arranjos, não se limitando a um trabalho decorativo, antes procurando subtis deslocações de perspectiva. Em “Nasca Fantasy”, Tomita apresenta-se mais comedido do que é habitual, funcionando como orquestrador e condutor. Sobre as suas tapeçarias cósmicas, as percussões “cantam” de forma mais disciplinada, com a focagem a deslocar-se do ritmo propriamente dito para a dinâmica de timbres e alturas, valorizada ainda pela qualidade de gravação (com mais um sistema de captação inovador…), que é excelente. Temas de inspiração peruana e espanhola, uma variação sobre as “Bachianas Brasileiras nº2”, de Villa-Lobos ou a interacção das percussões acústicas com os ritmos computorizados e uma emissão de frequências sonoras emitidas por um “pulsar” na constelação de Vela criam um cenário de antecipação científica e misticismo que não desagradará aos apreciadores da música de Steve Roach, Robert Rich ou Kevin Braheny, representantes da nova escola planante californiana. Só que, aqui, o curso das estrelas ajusta-se aos batimentos do coração da Terra. Eric Von Daniken, pelos vistos, continua a estar na moda.

* Em vez de “nome” lia-se “mesmo” no original