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Gong – “Live 2 Infinitea”

10.11.2000

Gong
Live 2 Infinitea
Snapper Music, distri. Música Alternativa
7/10

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É COM UM FERVOR quase religioso que os adeptos dos Gong saudaram a música dos seus ídolos na digressão mundial realizada pelo grupo na Primavera deste ano. Trinta anos depois de terem engolido a poção original, Daevid Allen está com o aspecto de um ancião feiticeiro e Gilli Smyth com o de uma velha gaiteira de mini-saia, mas a música dos Gong soa com a frescura dos velhos tempos, parecendo almejar a imortalidade. “Live 2 Infinitea” recupera a música do recente álbum ao vivo “Zero to Infinity” – deixando as divagações jazz rock deste último, para se concentrar nas viagens psico, em que são mestres – e ressuscita a velha mística das sessões dos anos 70, com os glissandos cósmicos da guitarra e as fábulas lunares de Allen, os vagidos astrais de Smyth e o saxofone estrábico de Didier Malherbe. A “trip” dos Gong é, de facto, infinita. LSD em excesso no bule de chá.

… Mas Que as Há, Há!…

02.11.2001
… Mas Que as Há, Há!…
“Não acredito nelas, mas que as há, há!”. As bruxas. Manipuladoras das forças da lua e do sangue. Como Diamanda, assim também Kate Bush, Meira Asher ou Rosie McDowell. Ou Lydia Lunch, que actua hoje, pela primeira vez em Portugal.

Gilli Smyth

Foi e continua a ser Shakti Yoni, a feiticeira dos Gong. Shakti é, na doutrina budista, o fogo interior que deve ser canalizado dos chakras inferiores para os chakras superiores. Mas Gilli, à semelhança da troupe inteira de lunáticos que dá pelo nome de Gong, misturou as suas poções e pronunciou abracadabra na zona nebulosa em que a magia se confunde com a anedota. Quando em “Prostitute Poem”, do álbum “Radio Gnome Invisible, Part 2: Angel’s Egg” (1973), encarna a prostituta cósmica e geme através do tempo e do espaço “I’m eating your brain, I’m eating your mind”, encaramos a ameaça como um convite, entre o sobressalto e o sorriso. Fundou mais tarde os Mother Gong onde a energia feminina Yin continua a fluir.

Kate Bush

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A bruxa boa, próxima da imagem tradicional. Da voz aguda, já de si arrepiante, à faceta de dançarina erótico-naturalista e ao modo como quase sempre se fazia fotografar nos anos 80 (menos agora, que já vão aparecendo as rugas e está mais gordinha…) rodeada de plantas (as heras enleantes de “The Dreaming”, os frutos vermelhos de “The Red Shoes”), animais (a cornucópia de bestas nocturnas de “Never for Ever”, os cães de “Hounds of Love”), ou corpos humanos (“The Red Shoes”), é a típica encarnação das forças e dos ciclos da Natureza. Em “Lionheart” metamofoseou-se num leão e no clip da canção “Cloudbursting” vemo-la aliada a um mago-inventor de uma máquina de nuvens. Esta faceta de manipuladora tem correspondência na forma como lida com os sons, o que faz com que a sua música nunca tenha abandonado uma faceta experimental. Exemplo disso é a “suite” “The Ninth Wave”, “a nona onda” (de “Hounds of Love”), onde a magia se torna mais activa do que nunca e se apresenta de forma explícita num dos andamentos desta peça, intitulado “Waking the witch”, acordando a bruxa. Imaginamo-la para sempre a cantar “Wuthering Whispers” no alto no monte dos vendavais.

Cosey Fanni Tutti

Antes de fazer música com os Throbbing Gristle, Cosey Fanni tutti (nome inspirado na ópera de Mozart, “Cosi Fan Tutti”) era actriz de filmes porno. Ou seja, da exposição dos mecanismos de exploração do corpo passou para a exposição dos mecanismos de exploração da mente. Na época da música industrial, final dos anos 70, os Throbbing Gristle foram peritos em agir sobre a área em que o sexual e o mental se interligam, ou seja o erótico, que não é mais do que o sexual transformado em imagem mental. Cosey funcionava como ícone/polaridade porno do grupo. Faltava scannerizar e monitorizar tais imagens. Foi o que fizeram os Psychic TV, já nos anos 90, ao transformarem a mente num ecrã de televisão. Quanto a Cosey, formou com Chris Carter (outro ex-Throbbing Gristle) a dupla Chris & Cosey, vendeu a alma que não tinha ao projecto CTI (“Creative Technology Institute”) e enveredou pelos rituais mais rentáveis da tecno e do “trance”.

Meira Asher

A cantora israelita de cabeça rapada que já por duas vezes pôs os cabelos em pé ao público português, segue de perto os passos de Diamanda Galás. A sua voz também é uma sirene de horror que transporta os germes da destruição e da desgraça. Depois de um primeiro álbum, “Dissected”, amenizado pelas sonoridades humanistas da “world music”, no posterior “Spears into Hooks” Meira Asher abre a ferida e aumenta o grau de perigosidade num exorcismo dos fantasmas gerados pelo Holocausto. Com ou sem recurso aos textos bíblicos ou ao poema “Se questo é un huomo”, de Primo Levi. Num dos temas deste disco, “Weekend away break”, a câmara de horrores de Birkenau é reaberta e recordada como uma estância de férias. Para Meira Asher não há inocentes nem culpados, apenas a dependência mútua entre vítima e carrasco num eterno jogo de poder.

Diana Rogerson, Rosie McDowell, Leslie Winer

Poderiam pertencer à “WICCA”, irmandade “oficial” das bruxas de todo o mundo. Diana Rogerson, (na foto), aka Crystal Belle, é o anjo exterminador dos Nurse With Wound, um dos múltiplos projectos do seu marido, Steven Stapleton, e a sua presença assombra álbuns como “Soliloquy for Lilith”, “The Sylvie and Babs Hi-Fi Companion” e “Alas the Madonna Does Not Function”. Rosie McDowell verteu a sua energia fémea em seitas como Current 93, discípulos do mago negro Aleister Crowley, e Non, de Boyd Rice, satanista convicto. Leslie Winer, antiga secretária do escritor homossexual e ex-heroinómano William Burroughs, é a autora de um álbum de trip-hop com o título “Witch”.