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Fátima Miranda – “ArteSonado”

15 de Setembro 2000
POP ROCK – DISCOS


Fátima Miranda
ArteSonado (9/10)
Led, distri. Ananana



Mal fará quem se propuser escutar o mais recente álbum da cantora espanhola Fátima Miranda recostado no sofá com a concentração regulada a meio gás. “ArteSonado” exige que o mundo se apague à sua volta de modo a deixara voz inundar o mais ínfimo recanto da alma. Mantendo embora o mesmo elevadíssimo grau de virtuosismo e experimentação vocais que caracterizavam o anterior e magnífico “Concierto en Canto”, o novo trabalho da cantora que esta semana atuou em Lisboa e no Porto opera porventura a um nível mais subliminar, evidenciando sinais de um ritualismo que, recorrendo, como seria de esperar, a técnicas vocais tradicionais como o drhupad indiano, o flamenco ou o canto polifónico de Tuva, se revestem de uma inconfundível modernidade. Fátima Miranda invoca aqui forças ancestrais e coloca a voz ao seu serviço numa sequência de oito movimentos que percorrem toda a gama de registos vocais e estados de espírito que vão da serenidade contemplativa à histeria, da regressão à infância ao lançamento de maldições, da recriação étnica ao risco absoluto, entre o humor e a psicose, o amor e a morte. “Ornado de artesões” ou a “arte que soa”, dois dos significados semânticos do título, “ArteSonado” é a arquitetura vocal e anímica de êxtases formatados pela inteligência analítica e por uma imensa vontade de ir sempre mais além. Acondicionado num livro que é, também ele, um intenso convite ao jogo e ao prazer, “ArteSonado” não terá o impacte de “Concierto en Canto” mas deixa a certeza de que ficará igualmente inscrito no grupo das grandes obras vocais deste século.


Fátima Miranda – “Concierto en Canto”

Pop Rock

3 de Abril de 1996
Álbuns poprock

Fátima Miranda
Concierto en Canto
HYADES ARTS, IMPORT. ANANANA


fm

Esqueçam Meredith Monk, esqueçam Shelley Hirsch, esqueçam Joan LaBarbara. Nenhuma foi tão longe nem tão fundo na exploração da voz humana como Fátima Miranda. “Concierto en Canto”, objecto exemplar de uma editora espanhola especializada na edição de obras incatalogáveis do universo das “novas músicas”, é uma experiência avassaladora que – fica o aviso – poderá assustar os menos avessos a explorações pelos confins da galáxia musical. Quando um dos textos do livrete apresenta a voz desta natural de Salamanca como “infinita”, não está a exagerar. Os agudos a que se eleva em “Alankara skin”, dispensando quaisquer truques de produção ou manipulação electrónica, são simplesmente sobrenaturais. Fátima, elemento preponderante do colectivo Taller de Música Mundana, estudou “bel canto”, técnicas vocais japonesas, indianas e do flamenco e canto difónico mongol, tudo aqui aplicado num assombroso mergulho em que a vanguarda coincide com a fonte primordial dos sons. Música celeste e dos abismos, perigosa, na medida em que obriga a viajar até aos extremos da interioridade, “Concierto en Canto” possui aquela qualidade que obriga quem a ouve à ascese ou à perdição. Das sobreposições fonéticas desenvolvidas “ad infinitum” sobre uma frase simples, de “El Principio del fin” (um dos dois temas que recorre ao “overdubbing”), à alma cantando em discurso directo, na experimentação dos seus limites e das suas respirações, desprende-se deste encantamento a transcendência que caracteriza as obras-primas. (10)


Fátima Miranda-Concierto en Canto (28''54' Resumen del Concierto) from Fátima Miranda on Vimeo.