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Eliza Carthy – “Heat, Light & Sound”

POP ROCK

26 Fevereiro 1997
world

Eliza Carthy
Heat, Light & Sound
TOPIC, DISTRI. MC – MUNDO DA CANÇÃO


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Tem a cara chapada do pai e, em matéria de talento, parece não querer ficar-lhe atrás. Eliza, filha de Martin Carthy e Norma Waterson, é, hoje em dia, uma das vozes mais importantes da folk inglesa – herdando o ceptro das mãos da sua mãe –, bem como uma violinista de razoáveis recursos. Aliás, a família inteira já provara a sua supremacia na obra-prima “Waterson: Carthy”, encontro e passagem de testemunho de duas gerações que fazem do amor pela música da Inglaterra o objectivo de uma vida inteira. Quanto à jovem Eliza, já dera início à sua emancipação num álbum de parceria com Nancy Kerr, “Shape of Scrape”, concluindo-a agora com um trabalho de notável maturidade que cumpre, à risca, as promessas apontadas no passado. Bem entendido, o pai dá-lhe uma ajuda, tal como um número razoável de amigos, entre os quais Olly (Oliver Knight, que também pode ser escutado a tocar ao lado da tia Lal (Waterson), em “Once in a Blue Moon”, álbum por sinal também já disponível no mercado nacional. Eliza bebe na colecção de Cecil Sharp, nos reportórios de A. L. Lloyd e Pete Seeger, na “morris dancing” e no cancioneiro francês, para dar a conhecer uma extensa gama de registos interpretativos e emocionais que unifica num discurso detentor de um inconfundível toque pessoal, mas marcado pela carga genética de uma “englishness” arraigada. (8)

Eliza Carthy & Nancy Kerr – “Shape of Scrape”

Pop Rock

17 de Abril de 1996
world

Eliza Carthy & Nancy Kerr
Shape of Scrape
MRS. CASEY, DISTRI. MC – MUNDO DA CANÇÃO


ec

Depois da companhia dos pais, Martin Carthy e Norma Waterson, Eliza, uma das actuais coqueluches do “fiddle” em Inglaterra, juntou forças com a não menos promissora Nancy Kerr. O resultado deste segundo esforço conjunto saldou-se por um lugar de destaque na lista dos melhores do ano passado para a “Folk Roots”. Para os aficionados do violino, num estilo, o inglês, menos fluido e mais sincopado que o irlandês “estandardizado”, é um “must”, com o bónus de excepcionais prestações vocais, a solo, como no “a capella” de Eliza, em “Lay down in broom”, “Growing (the trees they do grow high)” (transmitido pelo grande Walter Pardon) e “Bonny light horseman”, ou em harmonizações em duo, como “I know my love”, “The keek (or ride) in the creel” e “The wanton wife of Castlegate”, que estão ao nível de referências como The Watersons, Peter Bellamy, Shirley & Dolly Collis ou John Kikpatrick com Sue Harris. Nancy, uma voz mais juvenil, curiosamente possuidora de um tipo de textura velada que recorda Carole Pegg (Mr. Fox), tem o seu momento em “The poor & young single sailor”. Interessante é verificar como um número cada vez maior de aspirantes prefere a opção purista às facilidades e maior apelo mediático das fusões. Neste caso, nem admira. Quem sai aos seus… (8)



Norma Waterson, Martin & Eliza Carthy – “Waterson: Carthy” + A. L. Lloyd – “Classic A. L. Lloyd” + Vários – “Hidden English”

Pop Rock

15 de Março de 1995
álbuns world

PARA GLÓRIA DA VELHA ALBION

NORMA WATERSON, MARTIN & ELIZA CARTHY
Waterson: Carthy (10)
Topic
A.L. LLOYD
Classic A. L. Lloyd (10)
Fellside
VÁRIOS
Hidden English (10)
Topic
Todos distri. MC-Mundo da Canção


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Deixemos por uma vez a Irlanda em paz e saltemos para o lado do seu “inimigo” ancestral, a Inglaterra. Os nossos irmãos da ilha hão-de perdoar, mas, se hoje toda a gente fala dos grupos e da música irlandesa, tal fama deve-se aos ingleses, que, ainda nos anos 60, abriram as portas do “folk revival”, através de grupos como os Fairport Convention e Steeleye Span. Claro que a folk – tanto a irlandesa como a inglesa – não começou aí, confundindo-se as suas origens com a dos povos que há milénios colonizaram as ilhas, como também é verdade que, na Irlanda, tanto os Chieftains como os Dubliners já estavam em acção, embora apenas para consumo interno. Foi preciso o rock vir dar uma ajuda para que as atenções do auditor comum se voltassem para uma herança musical até então apenas do conhecimento de uma minoria. Mas antes ainda dos grupos citados, responsáveis pelo “boom” do folk-rock, outros havia que vinham investigando e perpetuando a tradição, como os Hot Vultures, os Copper Family ou os Watersons, a par de um trabalho de divulgação e recolha levado a cabo pelos clubes ou pela veneranda instituição “Cecil Sharp House” ou ainda pelos registos fonográficos da Topic, que datam dos anos 50. É preciso compreender tudo isto para compreender a importância de um disco como “Waterson: Carthy”, considerado “disco do ano” pela Folk Roots, cruzamento de três gerações, irmanadas numa espécie de cruzada contra o esquecimento e a discriminação contra a folk sem fusões nem concessões de qualquer espécie. Norma Waterson – quem ouviu falar dela? – fez parte dos citados Watersons, bem como Martin Carthy, este já um nome conhecido, a partir do momento em que fundou, com Ashley Hutchings, os Steeleye Span. A sua filha, Eliza, benjamim do trio, revelou-se como notável violinista num duo, formado recentemente, com outra intérprete deste instrumento, Nancy Kerr. O encontro dos três resultou em pura magia. Escutar o canto e a voz de Norma Waterson é por si só uma experiência que não se explica por palavras. As suas interpretações em “Bold Doherty”, “With Kitty I’ll go”, “When first I came to Caledonia”, “Sleep on beloved” (com harmonizações de Martin e Eliza, num arranjo a fazer recordar os Watersons), e “Midnight on the water” (com apoios vocais de Eliza Carthy) são, todas elas, de antologia e – para quem já tiver sido trabalhado nesse sentido – arrepiantes. Martin Carthy não lhe fica atrás, naquele registo épico que o caracteriza, em “Ye mariners all” e “John Hamilton” (nova harmonização a três vozes, numa das especialidades deste cantor-guitarrista, a balada biográfica, magistralmente exemplificada nos álbuns “Out of the Cut” e “Rights of Passage”). A sua filha é, em primeiro lugar, uma violinista em cujo estilo está presente a marca dos clássicos, já que a voz não tem por enquanto, como é natural, a “patine” e a riqueza de “nuances” dramáticas da sua companheira mais velha.
“Waterson: Carthy” pode ser ainda um cartão de acesso para um passado ainda mais antigo, como aparece reunido na colecção de canções do lendário cantor, emigrante, escritor, radialista, ensaísta, aventureiro e comunista Albert Lancaster Lloyd, A. L. Lloyd, como é mais conhecido. Na companhia da concertina de Alf Edwards e o violino de Dave Swarbrick, mestre dos mestres. Ou na excepcional antologia de vozes da geração antiga, personificada por lendas como Bob e Ron Copper, Walter Pardon, William Kimber, Louise Fuller, Cyril Poacher, Bob Hart ou Fred Jordan, que a Topic tinha registadas em vinilo, em edições que alguns, mais velhos, recordarão das crónicas que sobre elas se publicaram no tempo em que se escrevia sobre folk no “Melody Maker”, pela pena de Colin Irwin. Gravações em as quais, como se refere no livrete, “o nosso conhecimento colectivo sobre o que a música tradicional realmente representa seria virtualmente inexistente” e que, ao mesmo tempo, “recolocam algumas das vozes do primeiro ‘folk revival’ num contexto necessariamente mais vivo e actual”. Documentos a ouvir e conservar com urgência.

Nota – Há cerca de 15 dias, no “Expresso”, uma voz houve que ousou desautorizar os “sumo-sacerdotes do templo”. Foi tal o desplante, a fúria e o destrambelho da invectiva que, por pouco, o herege quase se esquecia de criticar o disco em análise – no caso, o mais recente dos Chieftains -, empenhado que estava na destruição, um pouco tonta, é certo, das razões alheias, insuportáveis pelo simples facto de não serem as suas. Assim, como reparação, os deuses condenam o faltoso à audição da obra completa de Tom Jones. E a escrever mil vezes “Não invocarei o santo nome dos Monty Python em vão”.