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Barzaz – “Ec’ Honder”

pop rock >> quarta-feira, 14.04.1993
REEDIÇÕES WORLD


Barzaz
Ec’ Honder
Escalibur, distri. Etnia



Onde se prova que Yann Fanch Kemener vence aos pontos contra Erik Marchand no grande concurso dos melhores cantores de música tradicional da Bretanha actual. De textura mais frágil que a do cantor dos Gwerz, a voz de Kemener cativa pela maior subtileza e condutibilidade emocional. “Ec’ Honder”, anterior a “Na Den Kozh Dall”, apresenta id~entica proposta, que visa a libertação da tradição bretã da tirania da bombarda e da “biniou-koz”. A estas vibrações abrasivas contrapõem os Barzaz uma sonoridade próxima da “new age”, à qual a flauta de Jean-Michel Veillon e as percussões de David Hopkins conferem a plasticidade e a fluência da água. (8)

Vários (Barzaz + Battlefield Band) – “Começou O Festival Intercéltico Do Porto – Artífices Do Mar” 8concertos)

cultura >> sábado, 03.04.1993


Começou O Festival Intercéltico Do Porto
Artífices Do Mar


Duas notas distintas marcaram o início da 4ª edição do Intercéltico. Ao registo mais interiorizado dos bretões Barzaz responderam os escoceses da Battlefield Band com a apresentação festiva de temas do seu último álbum, “Quiet Days”. O Intercéltico arrancou em beleza, em ano de consagração.



Coube ao grupo da Bretanha Barzaz esculpir em rochas, vento e sal a primeira curva da tríplice espiral céltica “na triskell”, na 4ª edição do Festival Intercéltico do Porto. Principais artíficies, o flautista Jean-Michel Veillon e o percussionista de origem irlandesa David Hopkins, este o discreto tecelão das texturas ambientais que caracterizam a estética do grupo, ao vivo, e no álbum “Na Den Kozh Dall”. Paisagens marítimas em constante mutação, espelho salgado que reflecte a natureza profunda da brumosa e ancestral Bretanha. Músico ligado à “new age”, Hopkins rubricou, já no último “encore” um excelente solo de “bodhran”.
Paradoxalmente a música dos Barzaz “quebrou” pelo seu elo mais forte, nas vocalizações de Yann Fanch Kemener, voz profundamente enraizada na tradição vocal bretã mas que em dois ou três temas cantou ligeiramente acima do tom. Por culpa do frio, queixava-se ele nos bastidores, depois de ter surgido em palco envolto num pesado sobretudo. Entre suites de danças “plinn” e “fisel”, entrou para o quadro de honra do Intercéltico uma fabulosa adaptação de um “endro” profundo e diluviano que fez estremecer as fundações do Rivoli.

“Ainda Temos Uma Canção!”

Seguiu-se a festa imparável dos Battlefield Band, grupo amado por uns e odiado por outros, mas ao qual não se pode recusar uma coerência absoluta, na proposta que adoptaram desde o início de carreira. Alan Reid é hoje o maestro de uma formação renovada onde pontificam o virtuosismo e o poder das “highland pipes” de Iain McDonald e o violino desse prodígio de apenas 18 anos de idade que é John McCusker, bem secundados pelo sóbrio acompanhamento de Alistair Russell, na guitarra.
Se algumas reservas podem ser colocadas a uma certa “normalização” das vocalizações (faceta onde se faz sentir com maior acuidade a ausência de Brian McNeill), o mesmo não se pode dizer da maestria instrumental revelada pelo grupo, autêntica máquina de fazer música que pôs a assistência do Rivoli em delírio.
Num concerto que privilegiou os temas do álbum novo “Quiet Days”, “strathspeys”, marchas, “reels” e “jigs” alternaram com baladas de cariz politizado (“The hoodie craw” ou “Hold back the tide”, sobre a decadência da indústria naval na Escócia) e momentos de pura loucura, como o “celtic country bayou rock & roll” de “Six days on the road” ou o clássico “Afterhours”, exemplo da mais pura “celtic twilight poetry”, segundo a definição irónica da banda. O público exigiu dois “encores” – “pode ser, ainda temos uma canção!” – acabando o concerto em ambiente de loucura, com as “pipes” de Iain McDonald no comando das operações.
Já pela noite dentro, num bar da Ribeira, entre fumos, (mais) copos e música de dança, Robin Morton, o “papa” da Temple Records revelou ao PÚBLICO o lançamento próximo de um álbum conjunto de Edith MacKenzie, Christine Primrose, Arthur Cormack e Alison Kinnaird, resposta inteligente à actual superbanda escocesa Clan Alba, enquanto o líder dos Battlefield Band, Alan Reid, anunciava o seu primeiro projecto a solo. Debaixo dos holofotes e da batida frenética, escoceses e bretões perdiam-se no meio da confusão. Todos querem voltar.

Barzaz – “Na Den Kozh Dall”

pop rock >> quarta-feira, 31.03.1993
WORLD


Barzaz
Na Den Kozh Dall
CD Keltia, distri. MC – Mundo da Canção



Por norma, associa-se a música tradicional bretã às estridências da bombarda e do “biniou kozh” (gaita-de-foles). Em “Na Den Kozh dall”, estes instrumentos apenas aparecem num tema, tocados por convidados. O que significa que sendo o som dos Barzaz forçosamente diferente do habitual, nem por isso deixa de estar ligado com firmeza às raízes culturais daquela região, sobretudo através da voz de Yann-Fanch Kemener, especialista das formas tradicionais do canto bretão e autor de vários volumes de “Chants Profonds de Bretagne”. À ortodoxia do canto responde ainda, segundo os cânones, a flauta de Jean-Michel Veillon. A responsabilidade do que faz a diferença dos Barzaz cabe na maior parte a David Hopkins, músico de origem irlandesa conotado com a “new age” (gravou na Wergo um álbum bastante citado neste género de música: “Gaia – Na Ecological Meditation”) que aqui manipula percussões várias, flautas da Amazónia e didjeridu.
A tónica da música dos Barzaz é colocada então na criação de ambientes “naturalistas” criados por Hopkins numa girândola de efeitos, dos lampejos cristalinos de sinos e baques de madeira às “drones” obscuras do didjeridu. As típicas danças “Plinn” e “Fisel” ganham uma dimensão extra de espacialidade em ressonâncias que transportam para a Bretanha ecos das florestas da chuva da Amazónia. Mares que se misturam numa música simultaneamente densa e transparente, da cor dos musgos e das pedras molhadas da Bretanha. (9)