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The B’52 – “Dance This Mess Around”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 12 SETEMBRO 1990 >> Videodiscos >> Pop

SEMPRE EM FESTA


THE B-52’S
Dance This Mess Around
LP e CD, distri. BMG



Sigla de bombardeiro. Alcunha de penteado em forma de melão espetado para cima, ao gosto de duas meninas que gostam de cantar: Cindy Wilson e Kate Pierson – The B-52’s – designação de conjunto pop, americano, podia lá deixar de ser. Ao todo são cinco, e cultivam o “kitsch” parolo-futurista. Ficção científica, índios e “cowboys”, Nova Iorque de pernas para o ar, a grande misturada, mexida e servida em “cocktail” de cores berrantes e sons “naif”. Órgão de plástico de banha-da-cobra, ritmos saltitantes (como se fossem uns Talking Heads de província, acabadinhos de chegar à grande metrópole, ou os Devo sem dinheiro para sintetizadores), à volta das vozes fininhas das meninas com ar e nome de bonecas: Cindy e Kate, primas de Barbie. Mini-saias, “art deco” e os outros três (Ricky Wilson, Fred Schneider e Keith Strickland) procurando não destoar da pose. Todos juntos, ao vivo, são inseparáveis, excitantes, completamente destrambelhados. A nossa televisão dignou-se a passar umas das suas atuações, aqui há uns anitos. Inesquecível. De dar saltos. Deram o seu primeiro concerto numa festa particular, o amplificador do gira-discos a servir de P.A. e toda a gente aos pulos, quase fazendo cair o soalho. Depois o Deadbeat Club, antes do Max’s Kansas City e de serem descobertos pelo patrão da editora Island, Chris Blackwell.
“Dance This Mess Around” é uma coletânea de alguns dos melhores temas da banda, nomeadamente dos dois primeiros álbuns, “The B-52’s” e “Wild Planet”. As exceções são “Song for a Future Generation”, de “Whammy”, e “Wig”, não incluídos em nenhum dos prévios “longa-durações”. De fora, ficaram estranhamente discos como “Mesopotamia”, “Bouncing Off Satellites” e o recente “Cosmic Thing”.
Os B-52’s não pretendem ser sérios. Só lhes falta pintar o nariz de vermelho, de tanto que se esforçam para parecerem divertidos. Para eles, o mundo é uma festa, ao som do estalar de foguetes, com muitos “confettis”, planetas multicores e pequenos objetos inúteis. Sociedade de consumo. Hipermercado feérico, repleto de brinquedos e luzinhas. O universo é como um parque de diversões, “luna park” de emoções aos saltos no sobe-e-desce da montanha russa e algodão doce à saída.
O tempo é outra brincadeira. As épocas confundem-se – meras reproduções de gravura de revista. Recortes. “Polaroids” de civilizações congregadas no culto à Coca-Cola. Mesopotâmia? Deve ser ao lado da Suécia, ou será uma nova série de TV? “Everybody goes to parties – Dance this mess around”. Lancem-se serpentinas e beba-se e dance-se até de madrugada. A América é uma “party” antes da ressaca. Cérebros dançando em espiral, para lá de Plutão, até aterrarem no planeta “Claire”. Qual o aspeto de uma lagosta de pedras? Sabe-se lá!… A ligação para o 6060-842 está sempre impedida.
A música dos B-52’s vive de felizes desencontros, como peças de um “puzzle” encaixadas ao acaso, acabando por formar novos e inusitados padrões. Malucos é o que eles são. David Byrne não partilha essa opinião: produziu-lhes o desvario geográfico “Mosopotamia”. O som varia pouco, as meninas dão por vezes gritinhos histéricos, mas não se consegue deixar de ouvir e dançar.
Quem disse que a demência é dolorosa? Um passo em frente, dois à retaguarda, salto no ar e cambalhota – “The Art of Walking” – como diria o pai Ubu. Não é dadá, é gagá. Irresistível.