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Bleizi Ruz – “En Concert” + Ceolbeg – “Un Unfair Dance” + Philippe Eidel – “Les Agricoles” + Ensemble Tuva – “Echoes From The Spirit World” + Kormorán – “Hungarian Rhapsody” + Pentangle – “One More Read” + Amancio Prada – “Canciones De Amory Celda” + Rossavielle – “Very F. Tricky”

pop rock >> quarta-feira, 15.12.1993
WORLD

Bleizi Ruz
En Concert
Shamrock, distri. MC – Mundo da Canção

Os lobos ver,elhos ao vivo, nas habituais trocas e baldrocas com o “cajun”, o jazz e outras capelinhas frequentadas pelos modernos bretões. Vale a pena procura-los em estúdio em “Pell Ha Kichen”. (5)

Ceolbeg
Un Unfair Dance
Greentrax, distri. VGM

Que bom seria se Davy Steele deixasse de cantar de vez, para podermos ouvir em paz a harpa de Wendy Stewart (apesar de tudo aqui mais liberta do que no anterior “Seeds to the Wind”) e as “highland pipes” de Gary West, inesquecíveis no longo adeus do tema final. (6)

Philippe Eidel
Les Agricoles
Silex, distri. Etnia

“New Age” em veludo “folk, numa misturada de estilos que faz o “tour de France” para turista ver. Guy Bertrand e Eric Montbel, os dois Le Jaj presentes, não chegam para transformar o postal emk realidade. Bonito, ms pouco convincente. (5)

Ensemble Tuva
Echoes From The Spirit World
Pan, distri. Etnia

Regresso das vozes multifónicas da terra das águias. Só subestilos desta técnica vocal, que “cria um estado geral de bem-estar”, são mencionados 13 no folheto. Prodígios da garganta em cerimónias guturais do outro mundo. Étnica da dura, quase impenetrável. (6)

Kormorán
Hungarian Rhapsody
Pan, distri. Etnia

Folk-rock da Hungria. Computadores, gaita-de-foles e flautas em imitações disparatadas dos Jethro Tull, que remexem na lixeira do pior rock sinfónico. Mau gosto e falta de jeito, num álbum caricato. (0)

Pentangle
One More Read
Permanent, distri. Megamúsica

Jacqui McShee, Bert Jansch, um grupo de anciãos bem intencionados e a nostalgia dos tempos gloriosos de “Cruel Sister”. A memória consente destas coisas. (4)

Amancio Prada
Canciones De Amory Celda
Fonomusic, distri. MC – Mundo da Canção

Reedição de um álbum de 1987, em que o trovador galego entrava em liquefacção amorosa. As palavras dizem tudo. A sanfona de “Romance del enamorado” faz suspirar pela obra-prima que já desesperamos de ver ter continuação, “Caravel de Caravels”. Amancio Prada, aqui baladeiro, intimista e razoavelmente aborrecido. (4)

Rossavielle
Very F. Tricky
Shamrock, distri. MC – Mundo da Canção

Austríacos e conceptuais, os Rossavielle não sabem o que fazer do seu amor pela tradição celta. Simulacros de feira, por euroburocratas curiosos. Um razoável tocador de “uillean pipes” convidado, Dermot Hyde, e Nupi Jenner, “rookie” da sanfona salvam o disco da mediocridade. (5)

Amancio Prada, a Propósito da Edição de “De Mar E Terra”

07.07.2000
Amancio Prada, a Propósito da Edição de “De Mar E Terra”
“Cantar É Uma Forma de Oferecer A Alma”

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LINK (Canciones de Amor y Celda)

Amancio Prada, trovador do milénio, voz mítica do canto na Galiza. “Canto os poemas que dizem o que eu sinto e o que penso”. O novo álbum, “De Mar e Terra” é a continuação, 23 anos depois, do imortal “Caravel de Caraveles”, um dos emblemas da alma galega.

“Uma noite no moinho, uma noite não é nada. Uma semana inteira, isso sim é moinhada.” O verso, aqui traduzido para português, do tema “Una noite no muino”, de “Caravel de Caraveles”, perdura na memória dos que verdadeiramente amam a música tradicional da Galiza. Fala de um tempo e de costumes antigos. Da tradição oral com a qual Amancio Prada nunca perdeu inteiramente o contacto, apesar da sua discografia posterior o confirmar como um compositor-intérprete para quem, acima de tudo, importa a foça e a beleza da palavra poética. “O meu trabalho consiste essencialmente em compor música sobre as palavras, não só de poetas galegos como castelhanos”, declarou o músico ao PÚBLICO por ocasião da sua última apresentação em Portugal, há pouco mais de uma semana, no castelo de S. Jorge, num espectáculo intitulado segundo um poema do trovador galaico-português João Zorro, “Em Lisboa sobre o Mar”, comparando o seu estatuto ao de outros cantores espanhóis como Paco Ibanez e Joaquín Diaz. Trovador, sim, mas “afastado das gelosias e dos castelos antigos”.
“Canto os poemas que dizem o que eu sinto, o que eu penso, e que não saiba como dizer”, explica, apontando um processo de “apropriação”, este cantor e compositor para quem “cantar é uma forma de oferecer a alma”. “No fundo, a poesia não é dos poetas, os poetas são instrumentos da poesia, como a voz ou uma guitarra são instrumentos da música”, diz Amancio Prada, ao mesmo tempo que confessa a sua admiração pelos poetas portugueses Antero de Quental e, sobretudo, Florbela Espanca, que o cantor ouviu pela primeira vez recitada por Eunice Munoz.
“De Mar e Terra” recupera de novo as “coplas de tradicíon oral”, desta feita recriadas e adaptadas por Amancio Prada na companhia de Luis Delgado. O álbum é dedicado a Teófilo Caamano, “viajero errante y perpetuo, gallego hasta la médula, marinero, idealista, rojo, rebelde y noble”. Um álbum belo e comovente, em que a voz e a sanfona (cuja técnica lhe foi ensinada por Alejandro Massó, um dos músicos presentes em “Caravel de Caraveles”) de novo se casam com as profundezas, a luz e a simplicidade da poesia popular.
A mesma poesia popular que Amancio Prada encontra em Rosalia de Castro: “Ela escrevia com base em versos tradicionais de cantares populares, uma poesia escrita num galego muito simples e sensível, coloquial, nada rebuscado, uma poesia impregnada da paisagem, também, de certa forma, mística, panteísta.”
Amancio Prada encontra em si próprio essa mesma faceta mística, embora a par de uma costela “picaresca”, como confessa com um sorriso, e de ter o “coração na esquerda”. “A ideologia é apenas um entre vários aspectos que abordo de forma não obsessiva, talvez o meu disco mais politizado seja o primeiro, ‘Vida e Morte’ (1974), que, inclusive, tinha uma canção que foi censurada em Espanha.
Faz suas as palavras de António Machado: “A pátria é a terra que se pisa, a terra que se trabalha.” E “cantar numa determinada língua”, diz, “pode ser mais patriótico do que muitas declarações de princípio e, com certeza, muito mais do que a força das pistolas.”
Rosalia de Castro, poetisa nacional da Galiza, que Amancio Prada cantou em “Rosas a Rosalia” (1998, com participações vocais de Maria Del Mar Bonnet e da portuguesa Amélia Muge), o autor medieval São João da Cruz (em “Cântico Espiritual”, “o mais formoso poema, sobre o amor divino ou humano, que se escreveu em espanhol”, nas palavras do cantor), Alvaro Cunqueiro (em “A Dama e o Cabaleiro”, de 1987), Augustin García Calvo (em “Canciones y Soliloquios”, 1982) e Manuel Vicent (em “Navegando la Noche”, 1988) são alguns dos poetas presentes na obra gravada deste cantor natural de Leão que a Galiza adoptou como seu filho.
E Antonio Machado, por quem Amancio Prada nutre especial admiração, apesar de ter cantado apenas dois poemas da sua autoria, um incluído em “Canciones de Amor y Celda” e “Sonei que tu me levavas”. “É como Fernando Pessoa, a sua poesia está impregnada de pensamento.”
“Canta-se aquilo que se perde, escreveu Antonio Machado. Amancio Prada cita-a a propósito da sua relação com a música tradicional. “Tanto ‘Caravel de Caraveles’ como ‘De Mar e Terra’ não são fruto de uma investigação, mas retratos da minha vida, da minha lama. Hoje em dia, canta-se cada vez menos, apear de estarmos rodeados de música por todos os lados. Para mim, o importante é o espaço, a luz e o silêncio, três coisas cada vez mais difíceis de encontrar, sobretudo o silêncio”.