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The Alan Parsons Project – “Try Anything Once”

pop rock >> quarta-feira, 17.11.1993


The Alan Parsons Project
Try Anything Once
BMG, distri. BMG



Não fora a boa produção, o que não admira, tratando-se, como é o caso, do produtor de “The Dark Side of the Moon”, e “Try Anything Once” seria a nulidade completa. Ah, sim, escapa também a qualidade fotográfica das imagens do folheto, na mesma linha das de “Wish You Were Here”, agora com corpos pendurados na vertical, à laia de peças de talho, a pretenderem ser surrealistas À maneira de Magritte. Alan Parsons até entrou bem quando começou a assinar discos como compositor, com umas “Tales of Mystery and Imagination”, inspiradas em contos de Edgar Allan Poe, góticas e com alguma originalidade. Depois foi-se afundando a pouco e pouco, à medida que os bolsos, a pouco e muito, se foram enchendo. E alegremente se chegou a mais este álbum conceptual sobre não se percebe bem o quê que um tal Mr. Miles atravessa e lhe provoca grandes dúvidas e sofrimentos existenciais. A música, chamemos-lhe assim, está alinhada entre os Supertramp e a escória dos efeitos especiais que sobraram dos discos dos Pink Floyd. A salpicarem canções MOR (“middle of the road”) que procuram apelar ao gosto consumista dos “tops” americanos e que ou nos enganamos muito ou vão mesmo consegui-lo. (1)

Eric Woolfson / Alan Parsons – “Freudiana”

Pop Rock

20 FEVEREIRO 1991

ERIC WOOLFSON/ALAN PARSONS
Freudiana

LP duplo e CD, Emi – Valentim de Carvalho

freud

Sexo! Bem mais apelativo que “sexualidade”. Diz-me com que(m) sonhas dir-te-ei quem és. Grandes traumas. Complexos maiores que o das Amoreiras. Libidos desenfreadas. Oh mãe! Oh pai! Desejos inconfessáveis sublimados e deitados no divã. Atraída a atenção do leitor, podemos agora assegurar, cheios de júbilo: até que enfim, um disco sério, obra científica, didáctica, de grande fôlego e insuperável intensidade psicológica.
Sigmund Freud, nome importante, sem dúvida (embora nenhum dos seus discos tem há atingido os tops, os livros sim), mas não tanto como Eric Woolfson e Alan Parsons, juntos e felizes no massacre sistemático perpetrado sobre a figura do mestre.
Calho a vez ao velho Segismundo, mas ninguém, vivo ou morto, está livre de se tornar a próxima vítima. Em “Freudiana” (termo que designa a colecção de artefactos recolhidos por Freud ao longo dos anos ou, mais genericamente, a globalidade dos seus trabalhos e personalidade), cada faixa refere-se a um aspecto particular da vida e obra do autor dos “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” e “A Interpretação dos Sonhos”: o princípio do prazer (que infelizmente neste disco não funciona), alguns casos patológicos arquetípicos (“Little Hans”, Dora, o homem-rato, o homem-lobo, o juiz, etc.), o amigo hipnotizador, as terríveis lutas entre o herói superego e o vilão Id, são alguns dos pretextos para o desfilar contínuo dos lugares-comuns mais insuportáveis do tristemente célebre rock sinfónico.
Imagine-se uma versão caquética e envernizada de “The Wall” (a qual dos discos pertencem os imortais versos: “And now you’re alone my friend/and you must face the world outside”?) para se ter uma ideia aproximada do objecto em questão. Os vocalistas foram escolhidos a dedo de entre a fina-flor da mediocridade (Leo Sayer, Kiki Dee, John Miles…), os instrumentistas (Laurie Cottle – baixo, Stuart Elliot – bateria e percussão, Ian Bairnson – guitarras, o nosso amigo Eric – teclados, Richard Cottle – sintetizadores e saxofones e o nosso outro velho amigo Alana – teclados adicionais) cumprem o que lhes foi exigido por contrato com o entusiasmo e empenhamento de um empregado de escritório a fazer horas extraordinárias num sábado à noite.
Incluem-se mesmo três temas instrumentais, “The Nirvana Principle”, “Beyond the Pleasure Principle” e “Freudiana” que infelizmente não se parecem nada com os famosos quatro minutos e picos de silêncio de John Cage.
Mas do mal o menos: só a música e as letras é que não prestam. De resto, pelo cuidado posto na apresentação, vê-se que se trata de um produto de luxo. Oh mãe! *

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