15.06.1991
Sábado, Local, Televisão
Uma Questão De ‘Charme’
DE PARIS, França, espera-se o “charme” e lábios em biquinho a pronunciarem “oui”. As excepções tornam-se por isso mais chocantes e brutais. Serge Gainsbourg ou Leo Ferré a fazerem biquinho e, pior ainda, a dizerem “oui”, seria como Mireille Mathieu, de alfinete espetado na orelha, a berrar “anarchie” ou Adamo de cabelo pelos ombros, rendido aos prazeres boçais do “heavy metal”. Patricia Kaas chegou há uns anos a Paris, cheia de charme, mas decidida a não fazer boquinhas. Fez voz grossa e cantou Liza Minelli, Marlene Dietrich, Peggy Lee e os “blues”. Mademoiselle chente le blues” – assim se chama o álbum estreia – vendeu que se fartou e fez dela uma grande senhora da canção francesa. O segundo, “Scène de vie”, não lhe fica atrás. Foi na qualidade de “grande senhora” que actuou recentemente entre nós, no programa de extracção da lotaria europeia. Esta noite, entre um “blues” e uma “chanson” (sempre “d’amour”), Alain Delon faz-lhe a entrevista.
O charme de Robert Smith, vocalista carismático dos Cure, é diferente. Exerce o mesmo tipo de fascínio, por exemplo, que o suicídio. Com o seu ar de boneco de cera (digno de figurar no museu de Madame Tussaud), eternamente angustiado e desgrenhado, Robert Smith simboliza os derradeiros estertores do movimento “periquitos belgas”, negro por dentro e por fora (mais por fora) tão do agrado daquela facção de jovens para quem a vida se resume a recordar os “bons” velhos tempos de Ian Curtis e os Joy Division. Desintegration”, título de uma canção dos Cure, serve bem como definição. Vamos vê-los desintegrarem-se num concerto gravado o ano passado, em Leipzig. Vamos chorar. Se calhar por mais.
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