Pop Rock >> Quarta-Feira, 20.05.1992
Matching Mole
Matching Mole
CD, Columbia Japan, import. Contraverso e Bizznizz
Matching Mole é a transcrição fonética aproximada de “machine mole”, tradução francesa de Soft Machine, e o primeiro projecto colectivo de Robert Wyatt após a saída desta banda e antes da queda do 4º andar que o confinaria à cadeira de rodas e à produção regular de obras-primas como “Rock Bottom”, “Old Rottenhat” e o recente “Dondestan”. Com os Matching Mole, viria ainda a gravar o fabuloso “Little Red Record”.
O antecessor directo da orientação musical encetada pelos Matching Mole encontra-se na composição de Wyatt incluída na obra m´xima dos Soft Machine, o duplo “Third” (també há tempos reeditado em CD, agora de novo disponível): “The Moon In June”, longa melopeia vocal “dada”, entre o pueril e a complexidade de arranjos característica dos Soft Machine, aqui transposta para o formato de canção pop, como a entendiam, no final dos anos 60, os cruzados da comunidade de Canterbury (Egg, Caravan, Gong, Hatfield and the North): a linguagem “hippy”, com todo o seu cortejo de alucinações, alimentada por uma educação “arty” no seio do jazz e da música erudita.
Nos Matching Mole, encontrou Wyatt o terreno propício para as suas excentricidades e para exercícios melódicos, que aqui resultaram em duas canções pop à beira da perfeição: “Oh Caroline” e esse prodígio de encenação e expressividade – a letra, cantada com um máximo de emoção, refere-se à estrutura formal de uma canção, com “1st e 2nd verses”, “chorus” e uma mudança de tom final tão intensa como o súbito lampejo de um beijo – que é “Signed Curtaon”. Depois, são as “composições improvisadas” dirigidas pela guitarra inconfundível de Phil Miller e o swing e as explorações tímbricas realizadas nos teclados por outro dos mestres de Canterbury, David Sinclair, bem secundado pelo baixo de Bill McCormick e o piano eléctrico no limite da distorção do convidado David McRae (Nucleus), que tornam “Matching Mole” um álbum indispensável para a compreensão do que foi a margem mágica da cena pop vanguardista britânica, na transição entre duas décadas. (8)