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Kreidler – Appearance And The Park

17.07.1998
Mistério No Parque
Kreidler
Appearance And The Park (9)
Kiff, distri. Megamúsica

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Se a intenção era construir um ambiente de fronteiras esbatidas entre a realidade e o sonho, com “Appearance and the Park”, os Kreidler conseguem completamente esse objectivo. O tema de abertura, “Tuesady”, faz-nos entrar num parque de diversões bizarras como o que os Cluster abriram ao público em “Zuckerzeit”, provavelmente o álbum mais lúdico de toda a história do krautrock, ou o que, já na década seguinte, foi reformulada por Pyrolator, em “Wunderland”. Mas “Appearance And The Park”, ao contrário do anterior álbum do grupo, “Weekend”, que mantinha uma unidade sonora, é um trabalho inquieto e impaciente que a cada momento parte em busca de novas verdades. Como fizeram os Tortoise, no recente “TNT”.
A frieza que Andreas Reihse referiu na entrevista ao PÚBLICO (03/07/98) não é tanto um resultado como um instrumento de dissecação de emoções novas que os Kreidler espalham generosamente pelos recantos mais longínquos do parque. É uma Düsseldorf misteriosa e mutante que aqui mostra os seus sonhos mais belos e obscuros. Fábrica de implantes para o cérebro, reconversosres da realidade em imagens de caleidoscópio. Mas o “software” caiu nas mãos de crianças lambuzadas de rebuçado e “Appearance and the Park” faz sair do saco dos presentes o caderno que nos anos 80 levava o rótulo “Manobras orquestrais na escuridão” (“Necessity now”, junta, absurda e deliciosamente, a simplicidade “catchy” dos OMD com as avarias nos circuitos dos Oval) mas agora preenchido com as cores do milénio que há-de vir.

Kreidler – Parque de Diversões Electrónicas

04.05.2001
Parque de Diversões Electrónicas

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Brincar ou não brincar, eis a questão que nos últimos anos tem sido colocada no contexto da electrónica alemã. “Funny Electronics”, o “Fun, fun, fun” que os Kraftwerk transformaram em 1974 em “Wahn, wahn, wahn” no álbum “Autobahn, foi a etiqueta “Toys ‘R’ Us! Com que se designou uma música que recuperou para as máquinas o sentido de humor. Os Kreidler, com os To Rococo Rot, Tarwater, Schlammpeitziger, Mouse on Mars, Schneider TM e B. Fleischmann, fazem parte desse contingente que transformou os circuitos electrónicos em rocas de “kindergarten” (jardim infantil).
“Autobahn” dos Kraftwerk foi, de resto, com “Zuckerzeit”, dos Cluster, um dos primeiros álbuns de electrónica com origem na Alemanha a introduzir este conceito de diversão numa música que radicava no estruturalismo de compositores como Stockhausen ou no auto-convencimento do rock progressivo inglês de tendência electrónica, nomeadamente os Pink Floyd, ou projectos mais radicais como Tonto’s Expanding Head Band e Zygoat. A excepção pioneira era “An Electric Storm” (1969), dos White Noise, mas quem os conhecia? É verdade que nos EUA Raymond Scott já publicara nos anos 60 o compêndio de anedotas electrónicas para o século vindouro, mas isso é outra história, só mais tarde conhecida…
Passado um quarto de século sobre a extinção da primeira vaga do “krautrock”, e com a transição dessa electrónica “bonne vivante” assegurada nos anos 80 por Kurt Dahlke (Pyrolator), Der Plan e Holger Hiller, a Alemanha redescobriu na década seguinte o prazer, entretanto desbaratado pela “cold wave” e pela música industrial, da manipulação dos sintetizadores e a assumpção clara da melodia em estreita colaboração com o Groove.
Esta Apropriação só foi possível graças não só à revalorização do krautrock pelas novas gerações, como também pela reutilização dos sintetizadores analógicos. Não é possível brincar-se com um “powerbook” ou com um programa de composição. Possível é, mas não tem graça… O computador é uma máquina fria. Quem assistiu a alguma das actuações que Felix Kubin deu em Portugal, perceberá que o “show” circense que ofereceu, só é possível através do gesto de tocar, da relação directa com as teclas, os botões e os cabos de interligação de relíquias como os sintetizadores Moog, Korg ou A.R.P.
Andreas Reihse, teclista dos Kreidler, confessava, ao Público, a sua admiração, além dos Kraftwerk, Can, Neu!, La Düsseldorf, Cluster, Harmonia e Michael Rother, por Pyrolator, que produziu o seu 12 polegadas, “Fechterin”. E sob a designação de Deux Baleines Blanches os Kreidler gravaram nos próprios estúdios Atatak, sede da electrónica “de sorriso nos lábios” alemã nos anos 80. Nessa entrevista, manifestava ainda a sua antipatia pelos samplers (“barulhentos”, “sujos”) e a vontade de “exprimir sentimentos como a saudade” através de “sons e melodias o mais puros e simples possível”. Pureza e simplicidade apenas ao alcance das crianças, que continuam a tornar emocionalmente irresistível a música dos Kreidler, em álbuns como “Weekend” e “Appearance and the Park”, mesmo se no mais recente “Kreidler”, a saída de Stefan Schneider tenha determinado uma aproximação às correntes ambientais da música de dança. Mas o “chill out” dos Kreidler continua tão carregado de doçura, humor e mistério como dantes.

Kreidler
Porto | Aniki-Bobó
Tel. 22 3324619. Sábado, 5, Às 24h.

10 Mais de 1997

26.12.1997
10 Mais de 1997

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LINK (Kreidler – “Weekend”)

Fuschimuschi Math-Ice – “Short Stories”
Negativland – “Idepsipe”
Steve Roach, Stephen Kent, Kenneth Newby – “Halcyon Days”
Peter Hammill – “Everyone You Hold”
Kreidler – “Weekend”
Legendary Pink Dots – “Hallway Of The Gods”
Art Zoyd – “Haxan”
Hans-Joachim Roedelius – “Sinfonia Contempora No. 1”
Paul Simon – “Songs from ‘The Capeman’”
La! Neu? – “Düsseldorf”