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The Hope Blister – … Smile’s OK

29.05.1998
Tudo Terminará Em Lágrimas
The Hope Blister
… Smile’s OK (6)
4AD, distri. MVM

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Há uma música feita de tristeza, que é inseparável da personalidade e dos ideais estéticos de Ivo Watts-Russell, patrão e mentor da 4AD. Três álbuns editados com a chancela dos This Mortal Coil – “It’ll End in Tears”, “Filigree & Shadow” e “Blood” – serviram para impor a marca desse estilo, flutuante entre as margens do gótico, do ambientalismo, da electrónica, do neoclassicismo e da canção pop formatada em versões de originais, compostos por gente alheia ao projecto.
Um estilo e um fogo gelado que nunca se extinguiram e que agora encontraram continuação nestes novos The Hope Blister, sequência lógica dos This Mortal Coil. Contando desta feita com colaboradores como Laurence O´Keefe (Ex-Levitation e Dark Star), Louise Rutkowski (trabalhou com os This Mortal Coil) e Audrey Reilly, responsável pelos arranjos de cordas, Ivo prolonga um pouco mais a sua particular obsessão, insistindo mais do que nunca num trabalho de composição que assenta em versões para, paradoxalmente, fugir ao formato da “pop song” convencional.
São aqui retomadas “Dagger”, de Neil Halstead, dos Mojave 3, “Only Human”, de Heidi Berry, “Outer Skin”, de Chris Knox, dos Tall Dwarfs, “Sweet Unknown”, dos Cranes, “Let the happiness in”, de David Sylvian, “Is Jesus your pal”, dos GusGus, “Spider and I”, de Brian Eno, e “Hanky panky nohow”, de John Cale, todas elas – e apesar da promessa do título do álbum – remetendo para um universo de desesperada contemplação. Com o foco na voz de Louise Rutkowski, tendo à volta uma instrumentação clássica que dispensa quase em absoluto o ritmo, tanto da bateria como das programações. mas é um jardim, melhor, um cemitério, já visitado, e neste passeio entre tumbas e ciprestes reconhecemos a cada passo as inscrições da lage dos This Mortal Coil. “Smile’s OK” ouve-se como um reatamento de quixumes e mágoas de uma paixão que já esfriou. Ivo Watts-Russell te, sem dúvida, uma visão um mapa da noite, mas já não apetece repousar à sombra dos seus sonhos maus. Até porque, à força de conviver com os mesmos fantasmas, acabamos por lhes perder o medo e o respeito.