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Alan Vega, Alex Chilton, Ben Vaughn – “Cubist Blues”

Pop Rock

6 de Novembro de 1996
poprock

Carne crua

ALAN VEGA, ALEX CHILTON, BEN VAUGHN
Cubist Blues (8)
Last Call, distri. Megamúsica


cb

Morrer de morte lenta parecia ser até há bem pouco tempo o destino artístico marcado para o antigo vocalista dos Suicide, desde a separação do seu comparsa Martin Rev. Longe vão os tempos em que, sobre uma serração rítmica de martírio, Alan Vega atirava cadeiras para o meio da assistência ou queimava os mais agitados com pontas de cigarros acesos. A Vega restava seguir o caminho da decadência, vestindo até às últimas consequências a pele de um Elvis Presley desamparado num casino virtual. “Cubist Blues” surge não tanto como a ressurreição, mas antes como a sua redenção, de um género, o “rockabilly” industrial, que Alan Vega procurou retomar, sem sucesso, a solo, depois da dissolução dos Suicide, embora o grupo tenha regressado nos últimos anos à actividade, gravando em 1989 o álbum “A Way of Life”.
A gravação teve lugar em duas noites, num segundo andar dos estúdios Dessau, na zona baixa de Nova Iorque, recorrendo deliberadamente a escassos meios de produção (um dos temas, “Lover of love”, aproveita, inclusive, um erro de gravação…). Desta opção resultou um som directo e destituído de truques, que extrapola o minimalismo electrónico dos Suicide para fatias de carne crua cortadas a sangue frio pelas guitarras, o baixo, o piano e o sintetizador de metal de Alex Chilton, um ex-Big Star, e a batida obsessiva de Bem Vaughn, antigo colaborador de Kim Fowley, o maior e mais prolífico lunático de toda a história do rock.
Se o som dos Suicide é reproduzido praticamente na íntegra de cada vez que Chilton se agarra ao sintetizador, como é o caso gritante de “Freedom”, derivação em ritmo de massacre de “Cheree”, na maioria dos temas, porém, é a alma dorida dos “blues” que vem à tona, travestida nas intermitências vocais de um “robot” em curto-circuito. Os Velvet Underground já tinham sintonizado antes na mesma frequência, domando o caos a golpes de heroína, para soltar a poesia da desumanidade e da mecanização, mas foram os Suicide que afiaram a faca da crueldade e a cravaram no peito dos anos 80. Alan Vega corporiza o grito e os suspiros dessa dor e “Cubist Blues” a sua deslocação para a arena do rock ‘n’ roll. Entre a memória dos Doors, em “Fat city”, a devoção anedótica de “Come on Lord”, as descargas de electricidade e cimento de “Promised Land” e os “blues” em mármore frio de “Sister”. A cerimónia termina com “Dream baby revisited”, num cabaré vicioso, palco privilegiado em que os sonhos de Vega o transformaram em “the king”.