Sons
2 de Outubro 1998
A Certain Frank
Nobody? No! (7)
Ata Tak, distri. Ananana
As peças vão encaixando no “puzzle” gigante do krautrock. Cumprido o ritual de passagem dos anos 80, Kurt Dahlke, aliás Pyrolator, recuperado pela cena pós-rock como um dos gurus do movimento, regressa ao teatro de operações ao lado de Frank Fenstermacher, com um projecto que retoma algumas das vias encetadas pelo derradeiro e dispensável álbum sob o genérico Pyrolator, “Traumland”, de 1987. “Nobody? No!” é uma receita com travo futurista que, acima de tudo, dá a conhecer Dahlke como um dos grandes mestres actuais do sampler. O problema está na ânsia de querer mostrar trabalho feito, que faz com que “Nobody? No!” funcione bem nas primeiras quatro faixas, numa mistura de tudo o que de comum e bizarro possa existir entre os Can, Holger Hiller, Yello, o filme negro de Barry Adamson e os próprios Pyrolator, mas comece a partir daí a descambar num certo cansaço. Os estímulos dos primeiros temas deixam de funcionar, assistindo-se a uma inflexão em fórmulas correntes de produção que, se por um lado, despertam a curiosidade, através do recurso a uma série de artimanhas de estúdio, acabam, em última análise, por ceder aos lugares comuns dos modelos utilizados. Tudo descamba em algo a meio caminho entre o “trip hop”, o chill-out, um “easy listening” de casino futurista e deambulações de pós-acid-jazz. Saxofones, trompetes, vibrafones e vozes de disquete de demonstração rolam cativos em “grooves” empastelados em electrónica deliberadamente suja. “I will never leave you” consegue provocar alguns sorrisos, na simulação do impossível encontro entre os Bee Gees e Paul Schutze.