Arquivo mensal: Outubro 2018

Tori Amos – “Tales Of A Librarian”

(público >> y >> pop/rock >> crítica de discos)
5 Dezembro 2003


tori amos
na biblioteca de deus

TORI AMOS
Tales of a Librarian
2xCD Atlantic, distri. Warner Music
7|10



Como faria uma bibliotecária, Tori Amos organizou esta antologia abrangente de dez anos de carreira em forma de autobiografia. Escolheu canções dos álbuns “Earthquakes”, “Under the Pink”, “Boys for Pele”, “From the Choirgirl Hotel”, “To Venus and Back”, juntou-lhes a remistura de dança para o single “Professional widow” e os inéditos “Angels”, “Snow cherries from France”, “Mary” e “Sweet Dreams” e ainda teve o bom gosto e a generosidade de nos presentear com um álbum de fotografias (incluído, juntamente com interpretações a solo, ao piano, efetuadas no ensaio de um concerto, no DVD inserido no pacote) que faz jus à sua fotogenia, de resto patente na extraordinária série de fotos seleccionadas para a capa e restantes páginas do livrete.
Tori, a bibliotecária em confronto com as suas taras pessoais e as agonias do Cosmos, tem os olhos turquesa de uma criança velha, a pose de um anjo perverso e uma voz e forma de cantar que, por mais que tentemos contornar a questão, soam amiúde como um decalque de Kate Bush. É o mesmo timbre, o mesmo vaivém entre os graves e os agudos, o mesmo sentido operático do canto, ainda por cima servidos por arranjos (“Silent all these years”, “Cornflake girl”, “God”, “Winter” e “Spark” são apenas alguns exemplos de uma semelhança que chega a ser alarmante) que não destoariam de álbuns da inglesa como “The Dreaming” ou “Hounds of Love”, com as características dobragens da voz ou os floreados na zona dos ultra-agudos. Porém, se ignorarmos a existência da outra, “Tales of a Librarian” tem tudo para nos satisfazer porque, tal qual a…essa…ela…,Tori Amos não descura a escolha de material de altíssima qualidade que dê garantias de satisfação (“Deus, precisas de uma mulher que cuide de ti”, chega a cantar em “God”..). Satisfação que consiste em sermos arrastados por uma sensualidade feita de mistérios, melodias bruxuleantes e subentendidas perversidades. Tori é a professora que abre a sua alma para consulta, desfolhando e guiando-nos através dos capítulos de uma carreira ainda curta mas carregada já de iluminações. Evidentemente, de entre o anúncio das dez principais categorias de arrumação por temas dos livros de uma biblioteca/vida, é fácil escolher os que melhor ilustram as histórias da sua encarregada: “Philosophy & Psychology” e “Religion”. Deus já encontrou a tal mulher que cuide d’Ele.

Rolling Stones – “Good Times Bad Times – The Definitive Diary Of The Rolling Stones, 1960-1969” + “Four Flicks” (Box / DVD / fetiche / coisas que seduzem)

(público >> y >> pop/rock >> notícias)
5 Dezembro 2003
fetiche
coisas que seduzem


stones
história interminável



Aqui têm com que se entreter: um livro e um DVD quádruplo. O livro, “Good Times Bad Times – The Definitive Diary of the Rolling Stones, 1960-1969” (de Terry Rawling e Keith Badman) ilustra com fotos e histórias inéditas (muitos deste material recolhido por Tom Keylock, então motorista dos Stones) o percurso do grupo ao longo dos 60’s, sórdidas qb, como Brian Jones a espancar a namorada, a actriz Anita Pallenberg. Dir-nos-ão que o rock é isto mesmo. Os Stones não têm feito outra coisa. O DVD, a multiplicar por quatro, mostra-os ao vivo, em estádios e auditórios. Há inéditos, conversas de bastidores, convidados como Malcolm e Angus Young, dos AC/DC. O som é Dolby 5.1 e o maior espectáculo do mundo continua a ser deles.

“Good Times Bad Times – The Definitive Diary of the Rolling Stones, 1960-1969”; Sanctuary. Distri. Som Livre. Preço: €26; “Four Flicks”, 4xDVD. Distri. EMI-VC; €62,49, preço FNAC

Frank Zappa – “Does Humor Belong In Music?” (notícia / artigo de opinião / fetiche / coisas que seduzem / DVD)

(público >> y >> pop/rock >> notícias)
5 Dezembro 2003
fetiche
coisas que seduzem


zappa
nóia



“O humor faz parte da música?” pergunta Zappa em “Does Humor Belong in Music?”, DVD que apresenta o guitarrista, falecido há dez anos, ao vivo no “The Pier”, Nova Iorque, a 26 de Agosto de 1984. A pergunta, é, já, uma piada. O homem que pôs uma audiência alemã de milhares a fazer a saudação nazi sabia do que falava. Cada espetáculo seu era uma “performance” inclassificável. Zappa corroeu os alicerces da pop e do rock americanos, injetando-os com o pesticida do génio e da loucura. Ouçam-no e vejam-no remasterizado em títulos tão desbragados como “Hot plate heaven at the Green hotel”, “Honey, don’t you want a man like me?”, “Dinah-Moe Humm” e “Cosmik
Debris”.

Frank Zappa, “Does Humor Belong in Music?” EMI, distri. EMI-VC, €26, preço FNAC