Arquivo da Categoria: Drum ‘n’ Bass

Amon Tobin – “Out From Out Where”

25.10.2002

Amon Tobin
Out From Out Where
Ninja Tune, distri. Ananana
8/10

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O homem que subverteu o drum ‘n’ bass, crucificando-o nas engrenagens da obra-prima “Supermodified”, rendeu-se no novo trabalho à fantasia. “Out from out where” confirma o seu autor como um dos mais imaginativos demiurgos do “sampling”, mas poderá causar desilusão no aspecto rítmico, ao refugiar-se em fórmulas mais seguras do que aquelas que faziam de “Supermodified” uma contínua provocação. Mas agora é tempo de sonhar. Um lado onírico que começa por nos transportar pelo ar na abertura, “Back from space”, viagem na vassoura mágica de Harry Potter (onde a BSO do filme parece ser samplada…) até adquirir tonalidades cósmicas em “Searchers” e “Cosmo retro intro outro” (com um sample dos Soft Machine…). O d&b é então ponto de fuga e mero sustentáculo de uma música tão convulsiva (“Triple science” dá a réplica adequada aos Autechre) como visionária, onde se descortina um romantismo ora colorido pelos lápis da infância, ora desesperado. Não se pode ser revolucionário todos os dias. Mas é sempre possível abrir novas janelas sobre o belo.

Amon Tobin – Chaos Theory

01.04.2005
Amon Tobin
Chaos Theory
Distri. Ananana
8/10

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É um dos reis do corte e costura sonoro, a tal ponto que na sua música tudo parece fluir com naturalidade que os meios e a prática que levaram à sua elaboração desmentem. Porque na música deste brasileiro radicado em Londres nada é o que parece mas o resultado de subtis manipulações de fontes acústicas tornadas, nalguns casos, irreconhecíveis. “Chaos Theory” é quase uma banda sonora, composta para o jogo de computador da série “Splinter Cell”, por encomenda da firma fabricante. Talvez por isso é o mais ambiental dos discos de Tobin para o qual cada faixa foi feita como se de música para um filme de Dario Argento se tratasse. Diz ele. O que é acústico soa como electrónico mas o oposto também é verdade. Há um baixo e um violino à solta em “The Lighthouse” mas em “Ruthless” já os materiais se confundem num magma de sons. O que distingue, porém, Tobin da concorrência é a originalidade das ideias, nunca descendo ao formulário vulgar do “drum ‘n’ bass” que continua a ser a base do seu trabalho. Há sempre uma reviravolta, um som que parece não bater certo mas que não poderia estar noutro lugar. Não escandaliza chamar a este mural mutante de “psicadélico”.

Bund Deutscher Programmierer – Stoffwechsel

13.04.2001
Bund Deutscher Programmierer
Stoffwechsel
Rather Interesting, distri. Symbiose
7/10

bunddeutscheprogrammierer_stoffwechsel

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A Liga dos Programadores Alemães é uma associação sem fins lucrativos dirigida pelo senhor Wurden Erstellt (Atom Heart com novo disfarce? Talvez não…) e o apoio de instituições científicas insuspeitas como o Institut Fuer Phototechnik, de Bochum, e o Clube do Pataratas Digitais do Templo dos Fotões. Têm um emblema informático/maçónico e uma equipa de técnicos de bata branca na capa. Lá dentro, a música é um emaranhado intricado de drum ‘n bass, clicks escalpelizados e queimaduras digitais com todo o aspecto de investigações sobre os limites da percepção do cérebro aos estímulos electrónicos. Pelo meio, intrometem-se fotogramas subliminares: slogans em alemão, Olegkstrowienices, motores de explosão, “powerbooks” pedidos emprestados aos Dat Politics e pormenores melódicos que contrariam a lógica de deformação aparente da Liga. Desde as supermodificações de Amon Tobin que o d&b não surgia tão esquartejado e apto a explorar novos caminhos.