Vários – “Far Away, So Close”

pop rock >> quarta-feira, 15.09.1993
ÁLBUNS POPROCK


VÁRIOS
Far Away, So Close
Mute, distri. EMI-VC





NADA DE NOVO DEBAIXO DO CÉU
“Até ao Fim do Mundo” era um filme de Wim Wenders de viagem e iniciação, cuja banda sonora ficou para a história como uma das melhores alguma vez realizadas. Uma espécie de golpe de asa que levou os músicos participantes a transcenderem-se, mergulahndo na trama e no universo de imagens alucinatórias do final, como se disso dependessem as suas próprias vidas. O resultado foi um disco com alma e respiração própria. “Far away, so close”, a nova obra do cineasta alemão, é uma espécie de segunda parte de “As Asas do Desejo” e reúne alguns dos nomes presentes em “Until the End of the World”: Lou Reed, Nick Cave, Jane Siberry e os U2. Mas na “reprise” a façanha não se repetiu. Porque “Until the World…” resultou de uma conjugação astral irrepetível e “Far away…” tenta facturar recorrendo à mesma fórmula. Só que agora não há canções verdadeiramente empolgantes (recorde-se, por exemplo, o fabuloso tema dos Talking Heads, “Sex and Violins”), como se o empenho fosse desta feita menor ou a inspiração não descesse com a mesma facilidade do alto do céu de onde o anjo Cassiel contempla a nova Alemanha ainda não cicatrizada da ferida provocada pela queda do muro.
Nem mesmo os U2, com a inclusão dos temas “Stay (far away to close)” e “The wanderer”, este na companhia de Johnny Cash, retirados do álbum “Zooropa” (os restantes, à excepção do “hit” da “star” de pacotilha Herbert Grönemeyer, “Chaos”, são todos originais), desamparados no meio de alguma mediocridade (Grönemeyer, Simon Bonney) conseguem dar brilho a um trabalho que, ao contrário de “Until the End of the World”, surge algo desequilibrado. Nick Cave e Lou Reed despacham serviço, com competência mas sem os génios dos grandes momentos, parecendo o ex-Birthday Party mais sensível à temática e ambiente do filme em “Far away so close” e “Cassiel’s song”, onde estranhamente evoca certos maneirismos vovais de John Cale. Jane Siberry e os House of Love esforçam-se e dão o que podem na tentativa de criarem “temas atmosféricos”. Laurie Anderson constitui talvez a maior decepção, limitando-se a desenrolar a metro alguns dos seus tiques de marca, ao ponto de, em “Tightrope”, recorrer a esquemas já utilizados no tema “Big Science”. Misteriosa e mais compensadora em termos de poder de sugestão é a partitura, dividida em oito segmentos, idealizada pelo compositor francês Laurent Petitgrand, com quem Wenders já havia trabalhado em dois documentários, um deles o aclamado “Tokyo-Ga”, e na música que acompanha a cena de circo em “As Asas do Desejo”.
Em parte talvez devido ao precedente criado pela banda sonora anterior, que fez subir a alturas estratosféricas, as expectativas que rodearam este novo trabalho, “Far away so close” desilude, como se os sons se perdessem sem sentido na visão desolada do anjo, de uma cidade à procura das imagens correspondentes a uma nova identidade. (6)

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