Pop-Rock Quarta-Feira, 23.10.1991
CASSIBER
A Face We All Know
CD, ReR, import. Contraverso
Se ainda é lícito falar de terrorismo estético, os Cassiber constituem a frente avançada da guerrilha contra esse “império do mal”, cujos contornos e ideologia tendem a adquirir formas cada vez mais ambíguas.
Chris Cutler (a ficha completa ocuparia a totalidade da página…), Heiner Goebbels (“O Homem do Elevador”…) e Christopher Anders, depois de “Beauty and the Beast” e “Perfect Worlds”, persistem em manobrar no centro do Apocalipse. Textos de Cutler e Thomas Pynchon, extraídos de “Gravity’s Rainbow”: “Íamos por um túnel de onde jamais sairíamos. Eu já sabia. Era o fim.” Palavras gritadas, sussurradas, alteradas. Por torrentes de raiva. Por sombras húmidas. Pelo Medo. Lucidez gelada. O filme derradeiro: “Quando fecho os olhos vejo os pensamentos. E as palavras. Em cores terríveis.”
O som (lembrando por vezes as emanações venenosas dos This Heat) completa o horror. Obsessivo, massacrante, por momentos aberto à ironia (o jazz de variedades, em “I was old”, as intromissões de insecto de “Philosophy”…). Os samplers de Goebbels rangem os dentes sobre a percussão-folia de Cutler. Música-manifesto. Sirene de aviso. Que rosto é este, que não ousamos nomear? (8)