Space – “Space”

PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 26 SETEMBRO 1990 >> Videodiscos >> Pop


SPACE
Space
LP e CD, Space, import. Contraverso



Ao ler-se a ficha técnica, não se pode dizer que haja falta de espaço. O espaço em questão é ocupado pela mesma dupla que dá pelo nome de KLF, ideia de Jimmy Cauty e Bill Drummond, destinada a anestesiar os habituais frequentadores das pistas de dança, e colocá-los em órbita de seguida. Se em “Chill Out”, dos KLF, era a Natureza que piava, mugia, balia e produzia outros ruídos bucólicos suscetíveis de acalmar os ânimos mais exaltados e levar ao Nirvana aqueles propensos às grandes contemplações metafísicas, em “Space” é o grande salto para as imensidões siderais. Holografia dos espaços cósmicos, de densidade quase nula, pontuada por farrapos de música enviados via rádio, como se a Terra ficasse a anos-luz de distância. Vozes longínquas, contagens decrescentes, crescendo de foguetões preparando-se para desafiar o infinito. Astronautas suspensos no vazio. A pulsação de corações angustiados diante da eternidade.
Música espectral, infiltrando-se no cérebro de quem vive já uma realidade alternativa, à maneira dos enredos de Philip K. Dick. Música que recupera o sinfonismo aberto ao Cosmos dos percursores Tangerine Dream (de “Phaedra” e “Rubycon”), Vangelis (“Albedo 0.30”) e Brian Eno (“Apollo Atmospheres & Soundtracks”), para lhe inverter o sentido. O espaço transforma-se em alucinação. Entre a consciência e o mundo exterior, um ecrã de imagens refletidas. Recebem-se sinais, ecos de ecos de uma realidade fragmentada e fantasmática. No final do primeiro lado, uma voz líquida, excessivamente cândida, entoa o “Twinkle, Twinkle, Little Star”, do mesmo modo sobrenatural e perverso que Julee Cruise, nas escuridões luminosas de “Floating into the Night”.
Do outro lado de um disco em que o ritmo se limita à batida deliberadamente fria e mecânica dos sequenciadores, sugerem-se cadências vagamente dançáveis, como se ao corpo fosse possível agitar-se à gravidade-zero. No final, o lento retorno ao planeta, o som de gaivotas e do mar. Para os Space o espaço é um lugar triste e gelado onde flutuam almas perdidas. Como o inferno.

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