Arquivo mensal: Agosto 2021

Jean-Michel Jarre – “Chronologie”

pop rock >> quarta-feira, 16.06.1993


Jean-Michel Jarre
Chronologie
CD Dreyfuss, distri. Polygram



Entre dois megaconcertos para plateias de milhões, Jean-Michel Jarre lá vai gravando, para gigantones electrónicos, as suas peças com tanto de desmesuradas como de inconsequentes. Há excepções e essas mostram que o francês, quando quer, até consegue fazer valer a sua música com o recurso a outro tipo de argumentos. É o caso de “Zoolook”, com a participação de Laurie Anderson e Adrian Belew, ou do recente “Waiting for Cousteau”, que inclui uma faixa ambiental de cinquenta e tal minutos capaz de fazer Brian Eno corar de vergonha. “Chronologie”, peça única, ambiciosa do alto das suas oito subdivisões, não pertence infelizmente a esta categoria sendo, antes, mais um daqueles pastéis em que os sintetizadores lutam uns com os outros para ver qual grita mais alto e as melodias se revolvem até à náusea na fórmula, raramente ultrapassada, de “Oxygène”. “Chronologie 4”, uma das partes dançáveis, foi repescada por uma série de grupos “rave”, entre os quais os Sunscreen, através das habituais “mixes” e “remixes” em que a única função é fazer dar ao pé com o piloto automático ligado. Deve ser difícil ser-se casado com Charlotte Rampling e ainda ter tempo para fazer música interessante. (4)

Barry Adamson – “The Negro Inside Me”

pop rock >> quarta-feira, 16.06.1993
NOVOS LANÇAMENTOS POP ROCK


Barry Adamson
The Negro Inside Me
CD Mute, distri. Edisom



Quando não tem bandas sonoras Barry Adamson inventa-as. Assim aconteceu com “Moss Side Story” e o anterior “Soul Murder”. Filme a sério teve-o o ex-Magazine em “Delusion”. Desta feita o referente imaginário cinematográfico – recuperado logo pelo aspecto gráfico da ficha técnica, elaborado à maneira de um filme – emergiu numa curta-metragem de trinta e um minutos na qual Adamson foi buscar as sonoridades “standard” das fitas, sobretudo policiais, dos anos 60 e 70, aqui postas em relevo através das deambulações solistas do órgão Hammond e de um infatigável maremoto rítmico entre “Shaft” e o acid-jazz. Dos seis apontamentos que compõem “The Negro Inside Me” destacam-se “Busted”, com os sopros a explodirem em ondas “funky” próximas de Booker T. and the MG’s e o trabalho de corte e costura das técnicas de “dub” equidistantes às do álbum novo de Holger Czukay, e o genérico final “A perfectly natural union”, no paziguamento de um diálogo a três entre um vibrafone “cool”, um contabaixo e o restolhar das vassouras nas peles dos tambores.
“The snowball effect” abre com a desbunda do Hammond, “Dead Heat” serve-se de vários lugares-comuns do “thriller” de série B, com ambulâncias e sirenes de polícia a empurrarem o tema para o lado mais óbvio e “Cold black preacher” aposta no registo mistério.
Sobra uma versão do clássico “kitsch”/erótico “je t’aime moi non plus” em que os trejeitos mecânicos de Louise Ness não fazem esquecer os genuínos orgasmos, gravados “in loco” na cama por Jane Birkin. Mas como em tempo de sida e “safe sex” não convém originar grandes excitações, tem que aceitar-se o novo arranjo, à laia de preservativo.
Um álbum interessante, de baixo orçamento, a anteceder talvez uma próxima grande-produção que dê a Barry Adamson o direito de deixar a marca do pé gravada no mítico passeio em frente ao Chinese Grauman’s Theatre. (7)

Whippersnapper – “Folk-Rock No S. João Do Porto”

cultura >> quinta-feira, 10.06.1993

Folk-Rock No S. João Do Porto

OS WHIPPERSNAPPER, trio constituído por Chris Leslie, Martin Jenkins e Kevin Dempsey, actuam amanhã e na sexta-feira na Ribeira do Porto, em espectáculos integrados nas festas de S. João, iniciativa do pelouro de animação da cidade, com produção e organização da MC – Mundo da Canção. É o regresso do humor e do virtuosismo que a banda já dera a conhecer nas suas duas anteriores visitas a Portugal: em 1991, nos Encontros Musicais da Tradição Europeia, e, no ano seguinte, a solo, nos “Circuitos” que complementavam esse festival.
De então para cá a música do grupo ganhou consistência e reconhecimento público, passando do estatuto de banda de culto – para o qual muito contribuiu a presença, na formação inicial, do mestre do violino, ex-Fairport Convention, David Swarbrick – para nome de cartaz no carrossel de festivais Folk internacionais.
Chris Leslie assume hoje o papel de violinista principal numa proposta que se mantém intacta desde o início, na qual os instrumentos de corda são os principais protagonistas: além do violino, o bandolim, a mandola, o mandocelo e a guitarra. Ultimamente, o sucesso e consequente alargamento de audiências levaram a que a electrização do som se fizesse sentir comm maior intensidade, através da inclusão, na paleta instrumental, do sintetizador e de um violino eléctrico.
Nas suas anteriores passagens por Portugal, os Whippersnapper deixaram a imagem de um grupo de “virtuoses” sem pretensões, que intercalava um “tour de force” das cordas ou a repescagem de tesouros antigos desenterrados dos tempos em que Jenkins e Dempsey ajudaram a implantar o Folk Rock em Inglaterra, nos Dando Shaft, com uma anedota ou um comentário bem humorado sobre cada canção.
Hoje como ontem, os Whippersnapper prosseguem viagem pelas margens da música tradicional inglesa, sem grandes preocupações em deixar marcas de reconhecimento. A revista americana da especialidade “Frets” definiu-os uma vez nos seguintes termos: “Just your typical everyday original new acoustic traditional british ethnic multi-instrumentalboedown rock folk band.” O que, traduzido por miúdos, significa bons momentos de música e de gozo em perspectiva.