Pop Rock >> Quarta-Feira, 17.06.1992
PETER HAMMILL
Fireships
CD Fie!, import. Megamúsica e Contraverso
Palavras que o vento não leva. Palavras que, mais do que nuinca, parecem constituir o cerne do “opus” artístico / vivencial de Peter Hammill. Neste particular, a cada novo álbum, o autor descentraliza a sua visão pessoal, fazendo-a incidir sobre o mundo circundante, na globalidade, como em “Gaia”, em pessoas com nome próprio, como em “Curtains” (Tommy e Sylvia, em vez de Mike e Susie), ou em situações “reais” transpostas num “GT Cabriolet” para uma dimensão metafísica, como em “His Best Girl” (Pessoa viajava pelo interior, de Chevrolet, a caminho de Sintra). Há versos evocativos de outros antigos, como um “puzzle” que continuamente se faz e desfaz. O choque dos planetas e das estrelas, em “Incomplete surrender”, por exemplo, remete para a explosão cósmica que já antes deflagrara em “Tapeworm”, de “In Camera”. Se, em termos formais, o álbum não apresenta grandes inovações, navegando por águas bem mais calmas do que as da ópera “The Fall of the House of Usher”, nem por isso é menor o deleite com que se escuta, pela enésima vez, a espantosa expressividade da voz, as contorções líricas do saxofone de David Jackson ou os arranjos orquestrais de David Lord. A viagem continua. (7)