Concertos Em 2003 – “Pop E Rock Para Todos Os Gostos, Mas Porque Não Experimentar O Jazz?” (artigo de opinião / concertos)

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sexta-feira, 3 Janeiro 2003


Pop e rock para todos os gostos, mas porque não experimentar o jazz?

CONCERTOS EM 2003

Red Hot Chilli Peppers, Sigur Rós e Massive Attack são alguns dos nomes agendados para os cinco primeiros meses deste ano



Os Massive Attack regressam em Maio a Portugal para dois concertos no Coliseu de Lisboa

Na altura de ser feito o anúncio dos concertos em Portugal para os próximos meses, a regra é escrever-se que os haverá para todos os gostos. Pois bem, podemos adiantar que relativamente aos primeiros cinco meses do novo ano haverá em Portugal muitos concertos e para todos os gostos. Senão vejamos.
Já este mês, a agenda tem apontados nos dias 24 e 25 espectáculos dos The Misfits, respectivamente no Paradise Garage, em Lisboa, e no Hard Club, em Gaia. Os The Misfits são uma banda ao gosto dos apreciadores de rock pesado. Virão com dois convidados vagamente especiais, Marky Ramone, dos Ramones, e Dez Cadena, dos Black Flag.
Exatamente nos mesmos dias, só para baralhar e tirar público aos Misfits, os Red Hot Chilli Peppers vão fazer-se ouvir alto e bom som no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. São uma das bandas do momento e uma das favoritas dos filhos de quase toda a gente que gostaria que os seus filhos gostassem de outro tipo de música. Mas não há nada a fazer: pais, vão começando a pensar em comprar os bilhetes. O álbum mais recente chama-se “By The Way”.
Ainda antes destes dois concertos, terão lugar outros, ostentando o selo de qualidade dos Morphine. Falamos dos Twinemen, ou seja, Morphine menos o malogrado Mark Sandman. Três datas a não perder: dia 16 em Coimbra, no Le Son, Hard Club no dia seguinte, dia 18 no Paradise Garage.
Ainda a 16, Andrew Weatherhall, produtor do mítico “Screamadelica”, dos Primal Scream, e mentor dos Sabres of Paradise e Two Lone Swordsmen, estará no Lux, em Lisboa. Janeiro fecha com os islandeses Gus Gus, naturais de Reykjavik e, como seria de esperar, dada a latitude, praticantes de electrónica pop a baixas temperaturas. Nota final elevada para o concerto de Janeiro do programa “Jazz ao Centro”, iniciativa a realizar em Coimbra ao longo de todo o ano (parte do programa oficial de Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003), com o quinteto do contrabaixista William Parker, grupo ao qual se deve “Raining on the Moon”, um dos álbuns de jazz mais apelativos de 2002.

Dos Sigur Rós a todo o jazz
Passemos a Fevereiro, com fama de mês de todas as calamidades. Esperemos que não, apesar de ser o escolhido para a visita a Portugal da seita ideológica/religiosa/musical que dá pelo nome de Current 93, filhos de Aleister Crowley, o mago negro, e projecto liderado há cerca de 20 anos por David Tibet. A música dos Current 93 já passou pelo industrial e por uma imitação de folk, consoante as alucinações pessoais do seu líder. Trazem como convidado alguém muito especial, alguém que Laurie Anderson e Diamanda Galas consideram o “crooner” perfeito – o nova-iorquino Antony Johnson. Rituais marcados para 7 e 8 no Teatro Ibérico, em Lisboa.
Nem de propósito, Fevereiro foi igualmente o mês escolhido por outro grupo islandês, os Sigur Rós, para o seu regresso a Portugal. A Islândia será provavelmente a região do globo com mais bruxas por metro quadrado. Quanto aos Sigur Rós, foi num ápice que passaram do experimentalismo de “Von” para o ambientalismo paisagístico de “Agaetys Byrjun” e deste para o novo “( )”, cuja música tenta fazer jus ao título. Datas marcadas: 28 de Fevereiro e 1 de Março, respectivamente nos Coliseus do Porto e Lisboa.
Menos sinistro (opinião obviamente discutível), o canadiano de 43 anos Bryan Adams, autor de êxitos como “Run to you” e ilustre representante, nos anos 80, do chamado “rock sentimentalão”, actua a 24 no Coliseu do Porto e a 25 no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Os Zwan, projecto novo de Billy Corgan, ex-Smashing Pumpkins, tocam no Coliseu de Lisboa, no dia 22. O mês de Fevereiro começará aliás com a figura solar de Ney Matogrosso, que regressará aos Coliseus do Porto (dia 3) e Lisboa (dia 5) para fazer a apresentação do álbum “Ney Matogrosso interpreta Cartola”, preenchido com sambas do compositor Cartola.
Entretanto, o jazz contemporâneo continuará a marcar pontos. Com o “Jazz ao Centro” a trazer o DKV Trio, formado por três notáveis da cena de Chicago: Ken Vandermark (saxofones), Kent Kessler (baixo) e Hamid Drake (bateria).
Março não tem que saber. Vai ser o mês do “hard rock”, “heavy metal” e sonoridades afins. Os Satyricon tocam dia 6 no Hard Club e, no dia seguinte, no Paradise Garage. Os Paradise Lost, mais electrónicos, trocam a ordem das salas – dia 17 no Paradise, dia 18 no Hard. A 23 chega o “black metal” dos Cradle of Filth, no Paradise.
Absolutamente imperdível será o concerto do “Jazz ao Centro”, protagonizado pelo quarteto do saxofonista David S. Ware, com Matthew Ship (piano), William Parker (contrabaixo) e Guillermo E. Brown (bateria). Ware é um coltraniano no ascetismo e um ayleriano no ardor das labaredas e na intensidade do grito. A sua obra “Godspellized” (1996) é prima. Sangue e luz. Experiência arrasadora. Ao vivo também será assim.
Em Abril haverá blues. Ligeiramente loucos. Por Bob Log III. Performance marcada para dia 24, no Le Son, em Coimbra. E “Jazz ao Centro”, claro, com o quinteto de Jemeel Moondoc, saxofonista alto situado estilisticamente entre Ornette Coleman e Marion Brown. Os alemães Guano Apes farão a apresentação do novo álbum, ainda sem título, nos Coliseus de Lisboa (dia 16) e Porto (dia 17).
Maio receberá Joe Jackson, o “new waver” que se converteu ao jazz que se converteu à música de câmara (dia 15 no Coliseu do Porto, 16 na Aula Magna, em Lisboa), e os Massive Attack, a 21 e 22 no Coliseu dos Recreios em Lisboa, na apresentação do novo álbum “100th Window”.
Lou Reed também se espera que esteja cá no dia 21. Não se sabe ainda é em que sala. No “Jazz ao Centro”, outro concerto de arrancar os cabelos, pelo trio do tenorista e pianista Charles Gayle, um dos proscritos do jazz a quem a história, alguma história, fez por fim justiça. O seu “free” é mais que livre. Com Coltrane, uma vez mais, no horizonte, em “Touchin’ on Trane” (1991).
E pronto, poderá dizer-se que, em matéria de concertos em Portugal para os próximos meses, os haverá para todos os gostos. Com fortes aplausos para o jazz.

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