Companhia Dos Sons + Trio Ibérico – “Jazz Português Em Boa Companhia – Trio Ibérico e Comapnhia Dos Sons Em Concertos Esta Noite No CCB” (concertos / artigo de opinião)

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terça-feira, 30 Setembro 2003


Jazz português em boa companhia

Trio Ibérico e Companhia dos Sons em concerto esta noite no CCB



Nuno Ferreira, fundador da Companhia dos Sons

O jazz português está em alta. Multiplicam-se as edições discográficas e os concertos. No Centro Cultural Belém, em Lisboa, vai apresentar-se esta noite mais um novo exemplo desta manifestação e pujança, a Companhia dos Sons, nome ainda pouco conhecido do grande público. Com a primeira parte preenchida pelo Trio Ibérico.
Do Trio espera-se a concretização do “sentir-se ibérico” de que fala o pianista e líder do grupo, o espanhol Isaac Turienzo, acompanhado por Nelson Cascais (contrabaixo) e Paulo Bandeira (bateria). A Companhia dos Sons já tem um álbum de apresentação no ativo: “Spin”, gravado ao vivo no ano passado em Lisboa. É composta por Nuno Ferreira (guitarra e piano elétrico), atual professor na escola de jazz do Hot Clube de Portugal, diretor pedagógico da escola de jazz do Barreiro e fundador do grupo, João Moreira (trompete, fliscórnio e melódica), Jorge Reis (saxofones alto e soprano), Nelson Cascais (baixo), Bruno Pedroso (bateria) e João Silvestre (percussão e “sitar”).
“Spin” é jazz inserido numa corrente pesquisada cada vez em maior número pelos músicos portugueses. Um jazz feito de “nuances” subtis com marcas do jazz-rock inglês dos anos 60 e 70, personificado por bandas como os Soft Machine e Nucleus (também os Henry Cow, na introdução de “Espiral de sons”), mas onde são percetíveis igualmente fortes influências dos grupos de Canterbury como Gilgamesh e Hatfield and the North (o jogo de percussões de “Atlantis revisited”). Na construção das frases de guitarra (“Atlantic breeze” e o legado do cada vez mais citado Steve Miller, o do jazz-rock e não o dos Steve Miller Band), sobretudo, mas também na criação de ambientes descontraídos, quase pastoris, da maioria dos temas.
É jazz que dispensa o grito e as convulsões, preferindo concentrar-se na explanação, sem declives, de sonoridades em que a elegância e o desenho de pormenores quase impercetíveis predominam. “Treze dias” é uma das faixas que se destaca de “Spin”, num registo que casa na perfeição uma atitude rítmica própria do rock com uma notável construção de harmonias tecidas pelo baixo, os sopros e o piano elétrico. Os National Health (a mais complexa das bandas do “Canterbury sound” tardio) não fariam melhor.
A Companhia dos Sons, adotando, voluntária ou involuntariamente, esta estética, desenvolve-a, porém, de acordo com perspetivas e uma sensibilidade próprias. O tango (“Sailboat bues”) e os sombreados psicadélicos desenhados pela “sitar” conferem ainda maior diversidade a um álbum que não se põe em bicos de pés para se fazer ouvir. O jazz português precisa de boas companhias como esta.

Companhia dos Sons + Trio Ibérico
LISBOA Centro Cultural de Belém (Grande Auditório).
Pç. do Império. Tel.: 213612400.
Hoje, às 21h. Bilhetes entre 5 e 20 euros.



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