2 de Junho 2000
PORTUGUESES
Carlos Zel
Com Tradição (7/10)
Ed. e distri. Movieplay
Ainda que sem prometer, como escreve Rui Vieira Nery nas notas de apresentação, “os habituais requintes de novo-riquismo intelectual, revoluções estéticas e filosóficas na abordagem do fado”, ou por ter optado por instrumentações de alta tecnologia eletro-acústica ou por ter mergulhado espalhafatosamente no universo chique da poesia pós-moderna”, “Com Tradição” contém matéria suficiente para não o colocar na prateleira redutora da ortodoxia. Mais do que a inclusão de “Fado tropical”, de Chico Buarque, são as letras que recorrem, em estilo paródico, a linguagens “modernas”, como as de Nova Lisboa” ou “Fado da Internet”, que separam esta álbum de um discurso mais convencional. Sem contradição. Passe a ironia desta reapropriação, pelas novas tecnologias, do fado, ele já não é o que era. Mas, como sempre, é o fadista que faz o fado. A sua alma, a sua vida e a sua voz. E neste capítulo, Carlos Zel pertence ao grupo das “velhas” vozes clássicas, para quem o fado nunca mudará na sua essência. Em dois momentos-chave do disco, “Poema do nosso amor” e “Coração atormentado” Carlos Zel revela a profundidade das suas raízes e algo que distingue o grande do pequeno fado: a capacidade de se entregar e de se escutar por dentro, afinal o que permite afirmar ser este um álbum “Com Tradição”.