10 de Março 2000
DISCOS – POP ROCK
Nashville ao retardador
Lambchop
Nixon (6/10)
City Slang, distri. EMI-VC
Reclamam-se herdeiros de Chey Atkins numa linhagem de country atmosférico à qual se convencionou chamar “Nashville sound” e sentem-se orgulhosos por serem considerados a “banda mais estranha de Nashville”. Chegados ao sexto álbum, os Lambchop continuam pachorrentos, envoltos numa cortina de fumo e de lamentações soul, atentos aos pequenos episódios da vida que, bem trabalhados, podem servir para encher um álbum de canções. Kurt Wagner, vocalista e líder desta formação de 13 músicos, confessou um dia que escrevia e cantava devagar por se sentir exausto quando chega a casa após um dia de trabalho (Kurt trabalha na construção civil) e a música ser assim um factor de relaxamento. Neste aspecto, “Nixon” cumpre o seu papel até fazer ressonar.
As canções enrolam o novelo que aperta o tal country atmosférico contra a soul (aliás, os Lambchop seguem a máxima que afirma que “a country é a soul branca”), com todo o vagar, ao longo de uma longa noite iluminada pelo cartaz “romantismo”. “Nixon” sofreu ainda de uma demora adicional, sendo arrancado a ferros do estúdio, fruto da obsessão de Wagner e do engenheiro de som Mark Nevers pelo pormenor e pelos pequenos efeitos de produção que podem transformar um disco medíocre num objecto colorido. Em “Nixon” a sedução e o sedativo escorrem nos arranjos para cordas que num tema como “Nashville parent” pousam num easy-listening soul complementar dos High Llamas de “Hawaii”. Otis Redding, Nick Cave e Tindersticks habitam alguns dos outros mundos escuros que dão para o dos Lambchop. Mas, se é verdade que Curtis Mayfield continua a ser uma referência na música do grupo (“What else could it be?”), isso não impede que “Nixon” se confunda nalguns casos com um decorativismo que em “The book I haven’t read” recorda Tom Jones e em “Up with people” acompanha a fase mais country de Peter Blegvad, de “King Strut and Other Stories”.
E ficaríamos pela eternidade fora a contemplar esta verdadeira homenagem ao homem-estátua – a qual, diga-se de passagem, não destoaria como banda sonora de “Uma história Simples”, de David Lynch. Mas eis senão quando as duas últimas faixas nos vêm arrancar do sossego, gritando-nos que, afinal, num ápice, os Lambchop se podem virar do avesso para mostrar o lado convulsivo da sua música. “The petrified florist” (o homem-estátua sorri mas não compreende…) escurece no gume da faca de John Cale para se elevar numa escalada épica de sopros e sintetizadores Boeing e finalmente tombar com majestade no cemitério dos Current 93 e Death in June. A fechar, “The butcher boy” monta no bisonte, guiado primeiro por Johnny Cash e depois por Stan Ridgway, para correr (sim, correr!) ao encontro do rock ‘n’roll e do tempo perdido a desfalecer no resto do álbum.