Art Zoyd – Häxan + Thierry Zaboїtzeff – Heartbeat
Sons
19 de Setembro 1997
ARTe SinuZOYDal
Art Zoyd
Häxan (9)
Reprise, distri. Warner Music
Thierry Zaboїtzeff
Heartbeat (8)
Atonal, import. Symbiose
Saúde-se o regresso, sobretudo porque se trata de um regresso à boa forma, desta banda francesa à qual se deve um dos marcos da música contemporânea deste século, a obra-prima “Berlin”. Se este álbum confirmou os Art Zoyd como um ícone da abolição entre “erudito” e “popular”, dialéctica que o quarteto suportou através de uma linguagem única e inovadora, foi a partir dele, porém, que o grupo se cristalizou no seu próprio auto-encantamento, assinando obras posteriores que nada acrescentaram à excelência daquele álbum, a saber, os dois volumes de “Marathonerre” e, sobretudo, o posterior “Faust”. É verdade que qualquer destes trabalhos, compostos respectivamente para um espectáculo multimédia e para o clássico de Murnau, confirmaram um relacionamento privilegiado e de cumplicidade crescente na área da interdisciplinaridade (antes, já “Marriage du Ciel et de l’ Enfer” fora feito para uma coreografia de Roland Petit), facto a que não será alheia a ginástica de maior contenção demonstrada neste tipo de trabalhos.
Mas “Häxan” também foi composto por encomenda. O excerto de 30 minutos de “Glissements progressifs du plaisir” (dividido em partes com alusões a “Ubik” pelo autor de FC, Philip K. Dick) pertence a “Häxan”, um filme de B. Christenssen, e os 17 de “Épreuves d’ acier” ilustraram musicalmente uma exposição de fotografia de Philippe Schlienger. Todavia, há aqui algo mais. Uma força acrescida e uma convicção renovada no reordenamento das coordenadas musicais do grupo, que em “Faust” correspondiam a um momento de certa lassidão. É claro, os Art Zoyd permanecem desmesurados como nunca, confirmando o seu estatuto de equivalente pós-moderno e electrónico dos Magma. Daniel Denis, Patricia Dallio, Gérard Hourbette e Thierry Zaboїtzeff são, cada vez mais, demiurgos dos “samplers”, que usam como deuses românticos. “Häxan”, uma história de demónios e tentações, rituais pagãos e tecnologia, recusa orgulhosamente as regras da canção e o imediatismo e narcisismo da pop. Estes cânticos, estas batidas de monstruosa densidade, esta ascese espiritual que desdenha superiormente do abismo, ensinam-nos, como Nietzsche, a superar os limites. Mesmo que a moeda de troca seja a loucura.
Thierry Zaboїtzeff, teclados, samplers, percussões, baixo e violoncelo, estende ainda mais o leque da instrumentação, incluindo sopros (samplados?) neste seu novo trabalho a solo, que sucede às aventuras electro-acústicas realizadas sob o pseudónimo Dr. Zab. “Heartbeat”, subintitulado “Concerto for Dance & Music, op. 1”, cruza-se com os territórios da música, “Zeuhl” (é favor consultar a cartilha de kobaїano de Christian Vander…) diverte-se a manipular a “world” das urbes esquizofrénicas e faz o relato de uma nova idade pluralista onde os códigos musicais se misturam e mutuamente se polinizam. O batimento de um coração múltiplo.