Lal Waterson & Oliver Knight – “Once In A Blue Moon”

POP ROCK

5 Março 1997
world

Fantasmagoria

LAL WATERSON & OLIVER KNIGHT
Once in A Blue Moon (10)
Topic, distri. MC-Mundo da Canção


lw

Depois dos Watersons, ainda nos anos 60, da lição dos pais aos filhos, de “Waterson: Carthy” e de a jovem Eliza Carthy, primeiro com Nancy Kerr, recentemente, a solo, em “Heat, Light & Sound”, gritarem alto o nome da família, chegou agora a vez de outro dos seus elementos, Lal Waterson, com a colaboração de Oliver Knight (guitarras), abrir o livro noutra página. Provavelmente a mais brilhante.
A voz de Lal condensa, num universo pessoal e estelar, tudo o que existe de mais emocional em Norma Waterson e existia em Grace Slick (“Flight of the Pelican”) e Melanie (“Stumbling on”, “Wilson arms”) ou de inquietante, numa quase personificação de Nico, em temas como “Her white gown” e “Dazed”, de uma beleza sepulcral. Envolto numa produção atmosférica onde a reverberação e o dramatismo das vocalizações atingem, quase todos, a dimensão do sobrenatural, “Once in A Blue Moon” conta ainda com as colaborações, nos apoios vocais, em dois temas, de Norma Waterson e Jo Freya, uma ex-Blowzabella que também toca saxofone e clarinete, Martin Carthy, guitarra acústica num tema, e Charles O’Connor, rabeca, também num tema, entre outros nomes menos sonantes. Quanto a Oliver Knight, na guitarra, recorda, no estilo e na sonoridade, Martin Simpson. Mas o todo supera a junção das partes.
Disco lunar, parente das fantasmagorias de Nico e de Tim Buckley, difícil de enquadrar numa corrente, oscila entre a emoção levada a extremos de tensão quase insuportáveis e um tipo de experimentação que vai muito além do que a própria June Tabor ousou em “Angel Tiger” e “Against the Streams”. A este título, “Phoebe”, no modo como é feita a teatralização da guitarra eléctrica saturada de efeitos e distorção de Oliver Knight, constitui um dos momentos limite e mais perturbantes de “Once in A Blue Moon”. 1997 está a recolher do ano que findou alguns dos seus melhores trabalhos. Ambiental, trágico, totalmente introspectivo, “Once in A Blue Moon” é uma obra-chave do que poderíamos designar por “pós-folk”, em que a voz de Lal Waterson ultrapassa tudo o que poderíamos esperar. No pólo oposto, mas não menos brilhante, ao sol dos Dervish, está a lua de Lal Waterson.



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