POP ROCK
13 de Novembro de 1996
portugueses
Maria João
Fábula
VERVE, DISTRI. POLYGRAM
Domesticaram Maria João. “Fábula” é a Maria João do canto deslizante, alinhado com as palavras, obediente à moral, não a Maria João alpinista nem a Maria João escafandrista. É a Mariazinha. A voz está sinalizada: não subir nem descer mais do que o necessário. Evitar os extremos. Não chocar. Assim, a voz faz de coisa fofinha, com caprichos e beicinho. A mesma vozinha que encantou a meninada no projecto “Bom Dia Benjamim” mas desilude quem já se habituou a ouvir e a sentir Maria João cantar debaixo do vulcão. Contam-se histórias sem se contar a raiz. “Fábula”, o tema de abertura, ainda a mostra vestida com a farda de exploradora, embora por selvas já desbravadas. Contado esse rosário, as contas passam a fazer-se de cabeça, com o coração deixando-se ir atrás, cheio de preguiça. Parece um doce ECM (entre os convidados estão Ralph Towner e Dino Saluzz) como parece o discurso brasileiro, de Egberto Gismonti, de “Água e Vinho”, em “Cor de rosa”, e de Marisa Monte, em “A bela e a fera”. É bonito, mas, para quem gosta de Maria João, a outra, e não a dispensa, são 78 minutos que por vezes custam a passar. (6)