Pop Rock
19 de Julho de 1995
Álbuns world
Boys of the Lough
The Day Dawn
LOUGH, DISTRI. MC-MUNDO DA CANÇÃO
Já vem um bocadito atrasada esta crítica, mas, como diz o ditado, “mais vale tarde do que cedo”; por isso, e porque não queremos que falte ao leitor informação sobre os discos que consideramos importantes, aqui vai alguma prosa sobre o novo (bem, há uns meses era novo…) dos Boys, que já não o são tanto como isso. É o álbum da ruptura suave, do envelhecimento com classe. Desceram as rotações mas aumentou o grau de amizade por tradições afastadas do calor dos velhos “pubs” da Irlanda e da Escócia. O Inverno e os seus rituais, pagãos ou cristãos, do Natal e do Ano Novo, como são ou eram celebrados em diversas regiões do Norte da Europa, erguem-se espectrais sobre as litanias religiosas de “The Day Dawn”, maioritariamente centrado na tradição das ilhas Shetland, berço do violinista do grupo, Aly Bain. Uma aproximação temática nos antípodas da alucinação fusionista empreendida, sobre o mesmo tema, por Hector Zazou, no seu mais recente projecto, “Chansons des Mers Froids”. Os Boys of the Lough caminharam sobre as montanhas cobertas de neve, navegaram pelos mares gelados, tão longe quanto os levaram uma dança esquimó ou uma balada sueca, para finalmente virem aquecer-se no fogo de Natal de um “carol” (dos raros que se podem encontrar na tradição irlandesa) entoado em gaélico, “That night in Bethlehem”. Nota-se que o reumático já vai tolhendo alguns movimentos (ou nem por isso, se escutarmos a ligeireza de uma sequência de instrumentais dedicados à carriça, onde os velhotes como que ressuscitam, levados pelas asas do pássaro…) e que o tempo de vociferar a plenos pulmões já lá vai. Que importa, se em seu lugar se ergue a beleza sagrada de baladas como “The Christ Child’s lullaby” ou “The Wexford carol”? Ao contrário dos Chieftains, que optaram pela postura de uns Rolling Stones da folk, os Boys of the Lough partiram numa barca que leva ao que se esconde atrás do pôr do sol. (8)