Vários – “Global Meditation” + Vários – “Global Celebration”

Pop Rock

22 de Fevereiro de 1995
álbuns world

O mundo em elipses

A Ellipsis Arts é uma editora americana de “world music”. Até aqui nada de mais. O que distingue este selo da concorrência é o facto de apenas editar antologias. Objectos de luxo nos quais são postos todos os cuidados, desde o conteúdo à apresentação e embalagem. A editora vai fazer três anos de existência e é um ramo do selo-mãe Relaxation, com sede em Nova Iorque, especializado na música “new age”. O novo catálogo apresenta até à data cinco títulos, todos eles a partir de agora com distribuição portuguesa pela Etnia. O primeiro, editado em 1992, é uma caixa de quatro compactos de genérico “Global Meditation” e reúne temas de música religiosa recolhidas das mais diversas regiões do globo. Esteve seis semanas consecutivas no primeiro lugar de vendas no “top” de “world music” da “Billboard”, com largas dezenas de milhares de exemplares vendidos (35 mil, só no ano de lançamento). A segunda edição é um nova antologia complementar da primeira. Chama-se “Global Celebration” e segue o mesmo formato de quatro compactos com um livrete informativo. A temática é desta feita a música de carácter festivo oriunda de novo das mais diversas tradições planetárias. As vendas foram de novo de molde a colocar a antologia no “top ten” da “Billboard”. Seguiu-se “Voices of Forgotten Worlds”, um CD duplo contendo música étnica de culturas primitivas, acompanhado de um livro com 96 páginas, com informação detalhada e fotografias de grande qualidade. As duas últimas edições da Ellipsian Arts são uma antologia de música africana, em três compactos e livro, “Africa Never Stand Still” e outra incidindo sobre o flamenco, intitulada “Duende”, como nos outros casos, acompanhada de material informativo e fotográfico detalhado. Na calha está uma antologia dedicada na íntegra à percussão. As actividades da Ellipsian Arts planeiam estender-se a outros domínios, constituindo-se num verdadeiro polvo “multimedia” que integrará a edição de livros, vídeos e CD-ROMs.
Um dos muitos atractivos da estética da Ellipsis Arts prende-se com a atitude que preside à feitura de todos os trabalhos. Jeffrey Charno, director da companhia, insiste num ponto que é o aspecto lúdico da apresentação. Uma preocupação que se reflecte a todos os níveis, uma vez que a selecção de temas não obedece a um critério didáctico mas antes a uma escolha subjectiva que passa em primeiro lugar pelo prazer da audição. Depois, a arrumação temática que caracteriza todas as obras oferece como que várias viagens paralelas no interior de um percurso principal, o que retira à descoberta o peso da erudição e da catalogação científica. A “world music” encontrou na Ellipsis Arts novos roteiros. A investigar e fruir com urgência.

Global Meditation (10)
Global Celebration (10)


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Fascinante. É o mínimo que se poderá dizer de um projecto com a envergadura das antologias “Global Meditation” e “Global Celebration”, compiladas pela Ellipsis Arts.
“Global Meditation”, música religiosa, da contemplativa à ritual, subdivide-se em quatro subtemáticas registadas em outros tantos discos. “Voices of the Spirit” põe em destaque o canto, a voz humana em comunicação e comunhão com a divindade. “Harmony and Interplay” é dedicado aos “ensembles” instrumentais. “The Pulse of Life” incide no ritmo e “Music from the Heart” na melodia. Entre uma multidão de músicos anónimos, encontramos os nomes de Ale Møller, Milton Cardona, Nusrat fateh Ali Khan, Soliman Gamil, Farafina, Zakir Hussain, Stella Rambisai Chiweshe, Glen Velez, Djivan Gasparyan, Gordon Mooney e os Guo Brothers.
“Global Celebration”, música festiva, segue um esquema de divisão idêntico. Parte-se de “Dancing with the gods”, a dança, em várias festividades do planeta, continua-se com “Earth Spirit”, celebrações relacionadas de forma directa com a natureza, e “Passages”, rituais de passagem ou iniciação (baptismo, casamento, morte, etc.) e chega-se ao fim (ou ao princípio…) com “Gatherings”, colectânea de canções seculares. Aos ilustres desconhecidos juntam-se Bachir Attar, Mongo Santamaria, Matt Molloy, Sëbo Ensemble, Alan Reid com John McCusker, Angelin Tytöt, Ali Hassan Kuban, Klezmatics, Värttina, Tarika Sammy, Orchestra Marrabenta Star de Mozambique, Mahlathini e Seckou & Ramata, entre outros.
Em ambos os casos, é o grande mergulho nas raízes e, em simultâneo, na descoberta de sons e atitudes que enformam a nossa maneira de viver e de sentir. “Global Meditation” e “Global Celebration” são não só actos de amor à música, como manifestos políticos. A uma visão redutora, política e economicamente compartimentada do mundo, contrapõe-se uma noção de fraternidade cósmica baseada na comunicação e na partilha. Soa a banalidade “hippy” ou “new age”, mas é verdade. Na Ellipsis Arts, são todos românticos e anarquistas.



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