Pop Rock
6 de Dezembro de 1996
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reedições
The Who
Who’s Next
POLYDOR, DISTRI. POLYGRAM
Originalmente editado em 1971 pela Track, “Who’s Next” resultou de um projecto abortado de Pete Townshend que deveria suceder e ultrapassar o gigantismo de “Tommy”. “Lifehouse”, assim se chamava o que deveria ter sido um filme, uma peça de teatro, um álbum duplo e um novo conceito de apresentação ao vivo que Townshend definiu, na altura, como “música total”. “Lifehouse” antecipava uma sociedade totalitária do futuro em que a salvação dos indivíduos apenas seria possível através do rock’n roll. O guitarrista dos Who idealizou, inclusive, aquele que seria o “concerto definitivo”, onde cada elemento do público contribuiria com a sua própria música pessoal – utilizando para tal um computador – para um “acorde universal”. Excertos deste projecto, que Townshend ainda não desistiu de pôr em prática, encontram-se no álbum a solo do guitarrista editado em 1993, “Psychoderelict”, bem como em alguns temas de bónus incluídos na presente versão, remisturada e remasterizada, de “Who’s Next”. À distância de 24 anos, a música de “Who’s Next” mantém a mesma vitalidade, soando como um manifesto do rock criativo com o qual Pete Townshend pretendeu responder à desbunda remanescente dos anos 60. Obra sólida e rigorosa (o guitarrista afirmou, na altura, que ele próprio funcionou como uma espécie de computador humano, ao qual todos os aspectos da música estavam ligados), “Who’s Next” é ainda um álbum formalmente inovador, onde Pete Townshend transpôs para o rock os fundamentos da música sequencial electrónica, utilizando os sintetizadores VCS3 e A.R.P. não como instrumentos melódicos (o que na época faziam quase todos, dos ELP a Rick Wakeman), mas como agente rítmico de primeiro plano. Em 1971 causou furor o minimalismo robótico do A.R.P. no tema de abertura, o célebre “Baba O’ Riley” (onde participa o violinista dos East of Eden, Dave Arbus), sem esquecer outros onde o sintetizador funciona como componente sonoro determinante, como o não menos célebre “Won’t get fooled again”, “Bargain”, “The song is over” e “Going mobile”. “Behind blue eyes”, aqui presente em duas versões, é, por seu lado, uma das mais belas prestações vocais de sempre de Roger Daltrey. “Who’s Next”, mantendo dentro de limites aceitáveis os excessos dramáticos de “Tommy”, mostrou que a complexidade dos anos 70 não passou apenas pelas hostes do Progressivo. Um álbum para viver, cheio de saúde, até no final do século. (8)