Pop Rock
18 de Maio de 1994
WORLD
Sheila Chandra
The Zen Kiss
Real World, distri. EMI-VC

O título é uma metáfora para um estado físico e psicológico, leia-se religioso, que Sheila Chandra diz sentir no acto de cantar. Na linha do anterior “Weaving My Ancestor’s Voices”, “The Zen Kiss” é uma exploração e apropriação de determinadas técnicas vocais . tradicionais e contemporâneas – que têm por objectivo a unificação do corpo e da vibração musical num todo. “A capella” ou apoiada em “drones” electrónicas, neste caso prolongando certos estilos vocais indianos de forma semelhante a Noirin Ní Riain, por exemplo, com o seu “surpeti”, em “Vox de Nube”, Sheila Chandra opera segundo um misto de intuição e esquematização quase matemática. A espontaneidade é apenas aparente quando verificamos o trabalho de “colagem” naturalista presente nos dois temas intitulados “Speaking in tongues”, nos quais esta cantora inglesa de origem indiana junta ritmos e onomatopeias decalcadas de anúncios de televisão, a transposição para a voz de padrões rítmicos de tablas e mrdingam indianos e estilos vocais da tradição céltica. As ornamentações vocais integram, por outro lado, elementos celtas, búlgaros, islâmicos e andaluzes. Distante do registo mais acessível que a levou aos “tops” com os Monsoon, Sheila Chandra mostra em “The Zen Kiss” ser uma cantora para quem o canto significa algo mais do que uma boa melodia. Mas, por outro lado, esse desejo de aventura esbarra com a vontade de não querer chocar. E assim, em vez de uma Meredith Monk ou Shelley Hirsch de pendor tradicionalista, temos antes uma Enya vanguardista bem resguardada numa produção “new age”. (7)