Pop Rock
9 MARÇO 1994
WORLD
BUGIGANGAS CÉLTICAS
LOREENA MCKENNITT
The Mask and Mirror
Quinlan Road, distri. Warner Music
Cada álbum de Loreena McKennitt tem tudo no lugar ou, para utilizar a terminologia actual, é politicamente correcto. “The Mask and Mirror”, como o anterior “The Visit”, vai beber nas fontes celtas, mas da forma mais saloia que se possa imaginar. Loreena esforça-se. A capa e embalagem são belíssimas (desta feita um bestiário boschiano e fundo de noite americana), a produção é perfumada e a voz dela é agradável. Em “The Visit”, a conotação celta fazia-se através dos Oriente. No novo disco é pela Espanha, dos Pirinéus à Galiza a até à Andaluzia, com passagem por Marrocos. Há sufis, trovadores, cátaros e templários, as mil e uma noites e os evangelhos gnósticos. Loreena interroga-se e interroga Deus. O Licórnio volta à carga, Yeats e Shakespeare também. Aparece S. João da Cruz, Stª Teresa d’Ávila, o mercado de Marrakesh, um mosteiro beneditino no Quebeque, Santiago de Compostela e outras figuras e lugares decorados dos compêndios. A música é doce, pegajosa e enjoativa. Cheia de corantes. Loreena entra a matar, com uma sugestão de cânticos gregorianos em fundo, que é o que está a dar, em “The mystic’s dream”. É, mesmo assim, o menos mau. O ultraje surge com a entrada de guitarras eléctricas à Scorpions, em “The Bonny swans”. “The dark night of the soul” é um vómito cor-de-rosa com pretensões metafísicas; “Marrakesh night market” mistura Gypsy Kings com tablas indianas. Em “Santiago”, a harpista e cantora canadiana vai à cartilha do “medieval” e serve, embevecida, o equivalente em música antiga a “Scarborough fair” na tradicional: o óbvio e requentado. As “uillean pipes” dão um cheirinho da sua graça no “tema irlandês”, “The two trees”, e tudo acaba às voltas com Shakespeare e a condição humana em “Prospero’s speech”. “The Mask and Mirror” é bem capaz de vender como ginjas, mas são discos como este que dão mau nome não só à música tradicional como à música em geral. Discos enganadores, que procuram vender gato por lebre. Muito provavelmente, Loreena até estará inocente. Porque, lá na visão dela, as lebres são capazes de andar sobre os muros e fazer “miau”. (3)