Pop Rock
7 de Dezembro de 1994
DO OSSO PARA A UTOPIA
Bernardo Devlin pertenceu aos Osso Exótico, uma banda estranha. A certa altura, resolveu sair – “por razões pessoais e estéticas”. Resolveu seguir carreira a solo e vai começar com um disco, “World Freehold”, que sairá com o selo Ananana, à semelhança do que já acontecera com trabalhos dos Telectu, “Off/Belzebu”, e de Carlos Zíngaro, “Musiques de Scène”, e acontecerá nos tempos mais próximos com Rafael Toral e “Sound Mind Sound Body”.
“World Freehold” tem quatro faixas longas: “World Freehold”, “The mystery od mirrors”, “World rearviewed” (improvisação instrumental) e “Season”, e nele participam, além de Bernardo Devlin, no canto, percussões, órgão, sintetizador e, num tema, violoncelo, o saxofonista Olivier Vogt, que também toca clarinete e percussões e já antes colaborara no segundo álbum dos Osso Exótico.
Diferente dos Osso Exótico? Bernardo Devlin diz que sim. Embora também diga que se “limita a prosseguir” algo que já começara na banda – um “elo” com ideias “que já tinha antes”. Ideias que passam pela “justaposição entre um ideal próprio, naturalmente indizível, e a estrutura de canção, embora não de formato tradicional”.
Os Osso Exótico pertenciam, pelo menos no primeiro álbum, à família dos que faziam a chamada música ritual-industrial. Bernardo Devlin acompanha a música de grupos como Current 93, Coil ou Einstuerzende Neubauten. Mas diz que “a única relação que possa haver” entre a música destes nomes e a sua é o facto de todos eles terem evoluído de um experimentalismo radical para o tal formato de canção. “Nunca me identifiquei com nada disso”, diz, “embora perceba perfeitamente que as pessoas fizessem a ligação com a chamada música industrial, em relação ao primeiro disco do grupo”.
“World Freehold” é um título bastante enigmático. Bernardo Devlin concorda, embora ressalvando que é “enigmático mas não no aspecto Crowliano [Aleister Crowley, célebre mago negro] em que estão os Current 93, os Coil e companhia”. Tem mais a ver com uma utopia”, explica, “o inglês tem palavras fantásticas. ‘Freehold’ é uma das que não existe em português, embora exista a tradução ‘propriedade livre e alodial’, sem encargos. Tem, sem dúvida, que ver com a utopia”.
Para Bernardo Devlin, “o espaço para alguma música que aconteça que não seja ‘mainstream’, música patética, existe”. Prova-o a simples existência dos Osso Exótico e o facto de já estar a trabalhar no seu próximo trabalho em disco, além de pretender levar as suas canções ao palco, incluindo as de “World Freehold”, “rearranjadas de forma a ser possível tocá-las ao vivo”.
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