Pop Rock
19 JUNHO 1991
ROBERT FRIPP & THE LEAGUE OF CRAFTY GUITARISTS
Show of hands
LP/CD, Editions E.G., distri. Edisom
Tomando como exemplo este “‘show de mãos”, Robert Fripp passou a ter, a partir de agora, 34 daqueles membros anteriores, num total de 340 dedos. Acontece que os 16 músicos que integram a “liga dos guitarristas habilidosos”, formados no curso orientado pelo próprio ex-líder dos King Crimson, são como que os múltiplos tentáculos de um único corpo, cujo cérebro é, obviamente, Fripp. Embora oficialmente este se limite a assinar dois dos 14 temas instrumentais, escritos para guitarra, na prática, o que os ouvidos ouvem e o coração capta é uma determinada sensibilidade e abordagem técnica à guitarra, eminentemente frippianas, ressalvando as inevitáveis idiossincrasias dos respectivos intérpretes. Por detrás deste, digamos, totalitarismo estético, há todo um suporte ideológico que não cabe aqui explicar, coerente com as premissas que o músico há anos vem anunciando. A tónica incide assim num “colectivismo” assumido e exemplarmente demonstrado no tema “Circulation”, em que, a partir de uma sucessão de notas tocadas individualmente por cada músico, se constrói o círculo fechado por onde flui a energia acumulada dos intervenientes. O símbolo da capa (como no álbum “Discipline”) é, neste aspecto, para quem souber ver, esclarecedor sobre as técnicas tântricas utilizadas. São permitidas pequenas heterodoxias: “A Connecticut yankee in the court of king Arthur” junta Snakefinger (defunto colaborador dos Residents) com Steve Howe (dos Yes). “Chiara” ou a parte final de “Asturias” nada devem aos transes de Laraaji. A voz solo de Patricia Leavitt funciona de interlúdio em cinco temas, de resto perfeitamente dispensáveis. Quanto ao “show” de guitarras, é assombroso do princípio ao fim. Os discípulos, deixaram de ser aprendizes de feiticeiro, para se equivalerem ao mestre. Brilhante. ****