Pop Rock
10 ABRIL 1991
LP’S
Legendary Pink Dots
The Maria Dimension
LP e CD, Play It Again Sam, distri. Contraverso
Herdeiros legítimos da música progressiva dos anos 70, os Legendary Pink Dots representam uma das vertentes mais heterodoxas e estimulantes da cena alternativa actual. “Island of Jewels”, “Any Day now”, “The golden Age”, “Crushed Velvet Apocalypse”, e sobretudo a obra-prima “Asylum”, duplo que retrata os esplendores e dores da loucura, criaram-lhes uma aura de bizarria e qualidade que, de álbum para álbum, se tem vindo a reforçar.
Edward Ka’ Spel (profeta e vocalista da banda) é uma personagem estranha, misto de Syd Barrett e Peter Hammill, mergulhada numa alucinação contínua e colorida, povoada de fantasmagorias autobiográficas. Das suas obsessões constam o Apocalipse, a cor roxa e uma tal senhora sem nome de mil rostos, entre o celestial e o sinistro. Desta vez a Senhora é nossa e merecedora de todo o respeito. A capa retrata-A num pisa-papéis, daqueles transparentes que se voltam ao contrário para ver cair a neve e que abundam em Fátima. De resto, “The Maria Dimension” contém diversas alusões aos segredos e à iconografia ligados ao santuário.
A “dimensão de Maria” estende-se ao longo de hora e meia (o CD tem mais onze temas que o álbum, incluindo um CD single de bónus) por sonoridades luxuriantes e poemas labirínticos, com incursões na música barroca, no experimentalismo electrónico ou nas ragas indianas. Edward Ka’ Spel grita, sussurra, declama palavras (por vezes trituradas por computadores carnívoros) que se interligam como as peças de um “puzzle”. A paleta instrumental inclui cordas e sopros variados, electrónica, percussão e um número razoável de instrumentos exóticos. Enquanto o fim do mundo não chega, os Legendary Pink Dots vão desenterrando os seus tesouros. ****