28.03.2003
Ani Di Franco
Evolve
Righteous Babe, distri. Megamúsica
8/10
Verifica-se na extensa discografia a solo de Ani Di Franco um desequilíbrio axial que, se por um lado, tende a traduzir-se numa sobrecarga de produtividade e em padrões de qualidade variáveis, a distingue, por outro, da concorrência. Ani Di Franco não é nem a “singer songwriter” ideologicamente empenhada nem a biógrafa sentimental, embora estas duas facetas se cruzem e, por vezes, se digladiem, na sua escrita musical, convocando estilos vocais e instrumentais díspares. “Evolve” contraria esta tendência. É um álbum que tira o máximo partido da banda que nos últimos tempos a tem acompanhado nos concertos ao vivo. Predominam as sonoridades jazzísticas, o swing a cavalo em vagas de sopros, um balanço menos tenso do habitual em discos anteriores. Ani percute as teclas do jazz, as feridas mas também as flores e frutos latinos (“Here for now”), mantendo um equilíbrio e um nível de composição e interpretação de extrema sofisticação, como se a rebelde de outrora tivesse cedido o lugar a uma diva toda ela classe, segundo um processo de transformação semelhante ao de Suzanne Vega. O lado mais cru e confessional encontramo-lo em “Serpentine” e aí Ani despe o “vison” para se confrontar com a sua imagem no espelho, mas também com a “mafia da indústria musical”, em dez minutos de golpes de guitarra, declamação e exorcismo que – confessa – a levaram às lágrimas.