31.10.1997
Peter Hammill
Everyone You Hold (8)
Fie, distri. Megamúsica
O homem ou é um santo ou um louco. Chegado aos 49 anos de idade e ao 39º álbum da sua discografia (incluindo toda a discografia com os Van Der Graaf Generator), Peter Hammill continua sem ceder a nada nem ninguém, na construção de uma das mais sólidas obras musicais e poéticas deste século. “Everyone You Hold” corresponde ao grupo dos álbuns intimistas deste compositor, poeta, arranjador, produtor, guitarrista, pianista e cantor, na linha de “Fireships”, mas o que nele impressiona é a frescura de composição e, acima de tudo, a nobreza do canto e o rigor iluminado da arquitectura. Não é um álbum de gritos e revolta, mas um catálogo detalhado de subtis mutações interiores, no qual Hammill coloca como quer uma voz de cambiantes cada vez mais ricos, ao serviço de uma verdadeira iniciação, onde a vida e a música se confundem num todo. Ainda e sempre num confronto heróico contra o tempo e as suas marcas ( a série de fotografias da capa é já, toda ela, um manifesto de exposição e de entrega), numa guerra sem quartel que, há muito, os deuses apadrinham. Instrumentalmente, predominam as guitarras corais, a electrónica acetinada, sábios pormenores de estúdio e uma rítmica que prima pela discrição. “Nothing Comes” recua aos tempos doridos de “Over”, com o violino de Stuart Gordon a raiar os limites da tragédia, mas esta é apenas uma das muitas lágrimas e sorrisos que fazem de “Everyone You Hold”, afinal, uma sublime declaração de amor. Os fiéis reconhecerão cada inflexão da voz, bebendo cada sílaba dos poemas e sentindo na pele as mesmas dores do artista. Os outros ainda estão a tempo de entrar no mundo, sem igual, de Peter Hammill.