20.06.1997
Paixões de Chita
Tindersticks
Curtains (6)
This Way Up, distri. Polygram
“Oh, for the glamorous life!”, derrete-se o crítico do NME. O do Melody Maker desfaz-se igualmente em maneirismos, consedendo-se o luxo das lágrimas. Mariconsos! Eles, os Tindersticks, motivo de tantos soluços e deslumbramentos, são a noite, “onde nada acontece, mas de uma forma maravilhosa”, a solidão do celulóide, Hollywood e Londres abraçadas num ampexo de dona de casa arranjada para sair, as cordas encharcadas em grandiosa futilidade, o easy listening” disfarçado de dor e, acima de tudo, chafurdando numa imensidão de superior autocomplacência, o “crooning” que faz desfalecer os corações, de Stuart staples.
Já tínhamos ouvido esta conversa mole, antes. Periodicamente, há quem não resista, nem queira, à tentação de mergulhar nestes universos artificiais mais brilhantes, embora tantas vezes mais monótonos, do que a realidade. Bateram-se palmas aos Roxy Music (mas não confundamos, estes senhores arriscavam), como se bateram a Marc Almond, e se continuam a bater aos Divene Comedy. Enfim, a tendência é para se ficar embasbacado com a pose, na música como no resto.
A música dos Tindersticks, se lhe subtrairmos – é preciso reconhecê-lo – a sua indubitável capacidade de sugestão e arrancarmos o seu brilho nocturno de lantejoulas, é um amontoado do clichés. A sua falsa escuridão interior e os eu “pathos” são cuidadosamente encenados e embalados num invólucro de seda. Mas a alma dos Tindersticks é feita da chita da capa, ondes as flores ostentam cores foleiras e as emoções saem amarrotadas. São fox trots e rumbas cheias de estilo, baladas acetinadas como as do Nick Cave recente e convertido, iluminações aprendidas dos infernos obscuros de Scott Walker e Leonard Cohen.
Nesta cadência morna, os Tindersticks vão levando a água ao seu moinho. a todo o momento nos confessam que nada do que dizem e mostram é verdadeiro. “Quando é que seperde a habilidade de parar para ter a noção do nosso próprio ridículo? Afinal de contas, não passam de canções…”, canta Staples em “Ballad of the Tindersticks”, fazendo uma síntese lúcida da estética do grupo. É uma música confortável, toda ela a piscar estilo e classe, uma música que tanto serve para vestir para uma sortida nocturna, como para nos embrulharmos com ela, como um cobertor, antes de irmos para a cama sonhar.
O despertador toca em dois momentos. A cortina afasta-se para revelar sinais de vida. Ainda há sobressaltos no manto de estrelas de ‘polyester’ dos Tindersticks. Em dosi temas que redimem “Curtains” da sensaboria solene com que finge ser clássico: “Fast One”, em que as notas subitamente entram numa convulsão de dissonância apaixonada, e “bearsuit”, um delicioso passo de equilibrismo vocal sobre um órgão de realejo. Mas são duas ilhas, num mar morto onde os espectros se deixam ficar eternamente a dançar.