Patricia Dallio – D’où Vient l’ Eau Des Puits?

14.11.1997
Desta Água Não Beberei
Patricia Dallio
D’où Vient l’ Eau Des Puits? (8)
Musi, import. Planeta Rock

patriciadallio_douviens

“De onde vem a água dos poços?” pergunta a teclista dos Art Zoyd no seu quarto álbum a solo, depois de “Procession”, “Champ de Mars” e “La Ronce n’est pas le Pire”. A questão pode parecer retórica mas deixa de o ser quando tomamos conhecimento da temática do disco, a poluição ambiental causada pela crescente acumulação de materiais radioactivos no subsolo do planeta. Assim, a totalidade dos textos é constituída por testemunhos verídicos, de cariz ecologista, de pessoas e instituições que lutam contra a política e os interesses internacionais em jogo nesta matéria. A alinhamento alterna sequências instrumentais e interlúdios textuais, acentuando o carácter de manifesto. Aquelas cultivam o neo-classicismo atravessado por guitarras eléctricas em agonia, referências étnicas várias e o ocasional ar de “bal musette” do fim dos tempos que lhe é conferido pelo acordeão de Michel Besson, um dos convidados do álbum, juntamente com Fabienne Ringenbach, no violoncelo. Neste particular assume particular relevância um tema como “Hors les Gonds”, que junta a religiosidade apocalíptica de Olivier Messiaen com os “samplers” sinfónicos dos Art Zoyd e o clamor delirante do planeta inteiro. “Tour de Force” são ainda as três partes em que se divide “Humanité cherche futur”, libelo dramático de cores subterrâneas, mistura de sangue, noite e labaredas de revolta, entre palavras declamadas, torcidas pela tecnologia, apelos ambientais, um piano em busca de luz e um violoncelo que parece querer enterrar a derradeira réstea de esperança. A voz de uma criança (“Jeanne-Vera”, a fazer lembrar a “Vera C” de Richard Pinhas com os Heldon) e a ironia final de “Tout Va Bien” (“Dizem os especialistas: Não há nenhuma razão para nos inquietarmos… Tudo está bem… A central de Tchernobyl é a mais segura da Ucrânia… Não há nenhuma razão para nos inquietarmos… Tudo está bem…”) projectam um cenário que infelizmente não faz parte de um filme de ficção.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.