27.10.2000
Markus Stockhausen, Arild Andersen, Patrice Héral, Terje Rypdal
Kartã (7/10)
ECM, distri. Dargil
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pwd: levente
Embora “Kartã” queira dizer, em sânscrito, “poder superior”, a música produzida neste disco por este quarteto de figuras ilustres do jazz europeu paira distante das camadas mais altas do sagrado, nas esferas do ambientalismo que há muito se instalou no templo da editora de Manfred Eischer. Stockhausen, no trompete e flugelhorn, Andersen, no contrabaixo, e Héral (o menos conhecido dos três, embora já tenha trabalhado com Barre Philips e integrado a Vienna Art Orchestra), na bateria, percussão e “live electronics”, colam as respectivas sonoridades – amiúde submetidas a tratamentos electrónicos variados, incluindo a utilização de um Paradis Loop Delay, sampler da primeira geração – numa simbiose perfeita. E é sobre as paisagens assim criadas que divaga a guitarra do norueguês Terje Rypdal, que, muitos anos depois, recupera o misticismo contemplativo perdido nos álbuns “Odyssey” e “After the Rain” em solos incandescentes. A “composição instantânea” praticada pelo quarteto não permite falhas, nem deixa abrir frestas, a interactividade é pouco menos que perfeita, apesar do brilho das estrelas ter o frio habitual em projectos desta natureza, já guardados na estante antiga da ECM. Não faltarão, portanto, as vozes do costume a clamar que isto não é jazz. Tenham ou não razão, “Kartã”, ainda que sem desbravar espaços virgens, estende-se diante da imaginação a perder de vista.