18.02.2000
Ó Meus Amigos…
Vários
Cantigas de Amigos (7/10)
Ed. e distri. Sony Música
A música tradicional portuguesa tenta furar mercados que durante anos lhe estiveram vedados. Em regime corporativista. Depois de uns bem sucedidos “Romances” com Amélia Muge, Sérgio Godinho, Brigada Victor Jara, Gaiteiros de Lisboa e João Afonso, é a vez de se juntarem para estas “Cantigas de Amigos” adaptadas ao nosso cancioneiro tradicional por iniciativa de João Balão, gente como Genoveva Faísca, João Afonso, Paulo Costa (Ritual Tejo), Luís Represas, Né Ladeiras, Viviane (entre Aspas), Carla Lopes, José Medeiros, Cramol, Nuno Guerreiro, Maria João, Minela Medeiros, José Manuel David, Rui Vaz e Carlos Guerreiro, como vocalistas, enquanto na parte instrumental encontramos, entre outros, Moz Carrapa, João Nuno Represas, Alexandre Manaia, Pedro Jóia, Carlos Barreto, o galego Emílio Cao, Amadeu Magalhães e Fernando Meireles. Entre a abertura etnográfica de uma recolha de Giacometti e o final, uma vocalização colectiva em homenagem a José Afonso, desenrolam-se colaborações várias que, no geral, conseguem ser satisfatórias. Sabe bem, por exemplo, ouvor Luís Represas recuperar o tom do álbum de estreia dos Trovante em “Vindima”, com a segunda parte do tema desempenhada com a classe a que já nos habituou, por Né Ladeiras. Fazendo lembrar a Banda do Casaco, Paulo Costa e Viviane assinam uma bela interpretação de “Deus te salve ó Rosa”. José Medeiros transporta o seu vulcão pessoal para a “Moda do Entrudo”. Né Ladeiras volta a subir, sobre a sanfona e a gaita-de-foles, num “Milho verde” da Beira-Baixa. Um Nuno Guerreiro ambiental e etéreo dá voz a “Donde Vens ó Dona Ancra”. Uma mbira e ambientes de água oferecem a Maria João tonalidades africanas para um “São Macaio” recriado com eficácia. Gente do jazz e do flamenco distrai-se a tocar uma “Maria Faia” sem grandes alardes de ousadia. A belíssima voz de Minela põe a cantar alto o “Rouxinol” do Alentejo. O canto “a capella” de Genoveva Faísca e a polifonia dos três Gaiteiros de Lisboa cumprem. Tradicional “puro e duro” é o canto das Cramol na “Moda da farrapeira”. No final juntam-se todos em “A Garrafa vazia de Manuel Maria2, cantado à vez, um dos momentos mais engraçados e originais destas “Cantigas de Amigo”. Temas e momentos preferidos? Luís Represas e Né Ladeiras e “A vindima”. Carla Lopes, poderosa e inovadora, em “Maragato”. José Medeiros. Fernando Meireles e Amadeu Magalhães sempre que tocam. “Cantigas de Amigos” é, como diz a folha de promoção, um álbum de “celebração da música tradicional portuguesa e do espírito de desprendimento, comunhão e solidariedade que nela está presente”. Vale pelo que representa em termos de divulgação. E, ó meus amigos, havia mesmo necessidade…