Biosphere – Cirque

16.06.2000
Biosphere
Cirque (8/10)
Touch, distri. Matéria-Prima

biosphere_cirque

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Da pop gelado de baunilha dos Bel Canto às primeiras sessões de ambient tecno e chill out levadas a cabo sob a designação Biosphere, o percurso musical do norueguês Geir Jenssen tem sido uma constante aproximação ao Pólo Norte. Para já, estabeleceu a sua base criativa num estúdio situado a 400 milhas a norte do Círculo Polar Árctico, para aí, alternadamente, prospectar sob a superfície do gelo em busca de sinais de vida e apontar o telescópio para a escuridão gélida do céu, em busca de frequências alienígenas. “Cirque” é mais um passo na direcção de uma música que definitivamente rompeu com o compasso tecno para se localizar no centro de uma região povoada pelos espíritos do Norte. A novela que serviu de inspiração a este álbum, “Into the Wild”, de Jon Krakauer, a história das viagens pela América do Norte de um explorador em busca do autoconhecimento que finalmente acaba por morrer no Alasca, na mais completa solidão, ilustra na perfeição a demanda de Geir Jenssen da definitiva banda sonora para o cérebro, que, quanto mais gelado, mais e mais coloridas alucinações consegue produzir. Comparado com o suave batuque astral dos Can em “Future Days”, “Cirque” pode igualmente ser encarado como uma espécie de visão da fauna e flora microscópica, substrato invisível da selva que, mais acima, Jon Hassell desbravou com a sua música do “quarto mundo”. As batidas são quase subliminares, de água e poalha de gelo, as vagas electrónicas avançam lenta mas inexoravelmente como um gigantesco glaciar em fase de degelo. A música de “Cirque” é tão bela como as imagens da Natureza que a acompanham no respectivo livrete. Tão bela como as metamorfoses subtis de uma aurora boreal.

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