Boa pergunta
Na senda do post anterior, o livro que ando a ler coloca a questão essencial:
Maria Filomena Mónica – “Vale a pena mandar os filhos à escola?”
É uma pergunta pertinente.
Sempre acreditei que:
1. “Todos gostamos de aprender mas ninguém gosta de ser ensinado”
2. “Só aprende quem quer realmente aprender”
3. Não é preciso ir à escola para aprender, podemos aprender o mesmo em casa. Esta última afirmação refere-se apenas àquilo que entendo como conhecimento. É óbvio que a escola, mas não necessariamente ela, desempenha outras funções importantes.
A autora reúne neste livro muitas das crónicas que publicou ao longo dos tempos na imprensa e que se debruçam sobre temas da educação. Com formação em História e Sociologia, Maria Filomena Mónica tem ainda um passado recheado de episódios ligados à sua vida como professora que exerceu durante períodos mais ou menos longos na universidade portuguesa.
Autor: Maria Filomena Mónica
Título: “Vale a Pena Mandar os Filhos à Escola?”
Editora: Relógio D’Água
Data de Edição: Outubro de 2008
Nº de Páginas: 146
ISBN: 978-989-641-048-3
Na esmagadora maioria dos artigos ela coloca o dedo na ferida e mostra claramente quão nu vai o rei no reino da educação em Portugal.
Embora se trate de uma personalidade polémica e por vezes emproada, no alto da sua sapiência vergando com os seus argumentos os seus opositores da “ralé”, há uma característica que ninguém lhe pode negar: a sua independência, qualidade tão rara hoje em dia nas figuras públicas.
Isto para além de uma acutilância e inteligência coadjuvada por anos de experiência no meio classificam MFM como uma das opinadoras mais incisivas do panorama da imprensa portuguesa.
Não é minha intenção analisar o livro, mas a leitura deste livro de crónicas, para quem pertence ou se interessa pelo mundo do sistema educativo português, é assaz recompensadora.
Juntando o útil “agradável”, e já que a avaliação dos professores está na ordem do dia, bem assim como o dogmatismo e a obssessão pela avaliação em geral, limito-me a transcrever (de depois comentar) um dos curtos artigos do livro (os sublinhados são meus):
“Como Avaliar os Professores”
Anreontem, a ministra da Educação declarou no Parlamento que na Universidade de Harvard os alunos avaliam os professores, dando a entender ser esta uma boa prática. além de perigosa, a afirmação é parola. Nem tudo o que se pratica naquela universidade, certamente uma das melhores do mundo, é positivo, porque o ensino dos EUA está infectado pelo «politicamente correcto».
Se há alguém que não pode nem deve avaliar os professores são os alunos: nem os das universidades, nem, muito menos, os do ensino básico ou secundário. Porque tal prática destrói o cerne da relação pedagógica, a qual se baseia no facto de o docente saber mais do que o estudante e de, por isso, ter obrigação de, no final, lhe dar uma nota. Tudo o resto são cedências às ideologias que dominam as Ciências da Educação. Há ainda um pormenor não despiciendo: Harvard é uma universidade privada e o que lá se passa apenas diz respeito ao seu conselho escolar. Ora, o que está em discussão em Portugal é um plano a ser aplicado no ensino público, ou seja, nas escolas pagas com o nosso dinheiro.
O desastroso estado do sistema educativo português tem muitas causas, mas não será através deste esquema de avaliação, provavelmente inspirado nas grelhas de avaliação para os alunos que o nefando secretário de Estado Valter Lemos apresentou no seu livro O Critério de Sucesso, que aquele melhorará. Mesmo que se pudesse instalar uma câmara de vídeo – o que espero não venha a suceder – em cada sala de aula, não haveria maneira de se determinar quem ensina bem ou mal. Os alunos sentem-no, os colegas sabem-no e os próprios terão uma noção das suas competências, mas basta ler a peça de teatro The History Boys, do premiado Alan Bennett, para se ver quão arbitrária pode ser a avaliação de um docente. Às vezes, só tarde na vida, ao recordar o professor que nos aterrorizou, nos apercebemos que foi este, e não o doce «setôr», que nos fez crescer em Sabedoria.
Que eu saiba, é para isto que as escolas servem.”
Meia-Hora, 22.02.2008
E agora?
1. Qualquer avaliação dos professores é arbitrária. Isso é evidente para quem tem dois dedos de testa. Mas insiste-se em avaliar um trabalho tão específico com as regras de um cortador de peças de tecido;
2. Como a avaliação dos docentes é, por natureza, totalmente subjectiva, tenta-se objectivá-la com uma profusão de grelhas. Tal não é só inválido como prejudica apenas o acto de ensinar (o verdadeiro trabalho do professor); É como a exigência de “grelhar” tudo o que se faz nas aulas e o que os alunos (20 e tal por turma) fazem nas aulas. Tarefa impossível, mesmo que não se faça mais nada. O bom senso do avaliador no final de uma unidade ou período escolar é, sempre, repito sempre, mais adequado do que o registo exaustivo.
3. O politicamente correcto obriga todos a dizerem que querem ser avaliados. O problema é que esta avaliação não conduz a nada de útil.
Finalmente, será que a equipa governamental do Ministério da Educação pensa mesmo que as escolas servem para fazer crescer em Sabedoria? Duvido.
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