Arquivo de etiquetas: Maddy Prior

Vários – “III Edição Do Festival Intercéltico Arranca Em Abril No Porto – Celtas Em Manobras” (feltivais / céltica)

Cultura >> Quarta-Feira, 11.03.1992


III Edição Do Festival Intercéltico Arranca Em Abril No Porto
Celtas Em Manobras


Galiza, Astúrias, Bretanha, Inglaterra e Irlanda são as regiões contempladas pelo programa do terceiro Festival Intercéltico, a realizar entre 2 e 5 de Abril na cidade do Porto. De Danann e Maddy Prior são os nomes de cartaz. Portugueses e galegos juntam-se sob a batuta de Manuel Tentúgal numa “Bailia de Frores” que se prevê festiva. O Porto volta a erguer o ceptro celta.



A pouco menos de um mês do seu início, o “Intercéltico” caminha para a consagração. Uma programação criteriosa e o cuidado, da parte da organização, em enquadrar os concertos num contexto cultural mais lato, garantem à partida o êxito da iniciativa. Mário Correia, do “Mundo da Canção”, Júlio Moreira, do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto e o músico Manuel Tentúgal revelaram ao PÚBLICO, em primeira mão, pormenores do que vai acontecer.
P. – Chegada à 3ª edição, o Intercéltico está em vias de se institucionalizar. Que garantias e apoios há nesse sentido?
MÁRIO CORREIA – Já na edição do ano passado a Câmara do Porto manifestara a intenção de assegurar, por todos os meios que estivessem ao seu alcance, essa institucionalização. É evidente que a Câmara só por si não tem meios para o fazer. Para tal torna-se necessária a conjugação de esforços e de apoios de outras entidades.
JÚLIO MOREIRA – Para o ano continuaremos a ter o apoio do Instituto Francês que se comprometeu a trazer todos os anos um grupo da Bretanha indicado pela organização. O ano passado tivemos a colaboração da Junta da Galiza. Este ano coube a vez do Principado das Astúrias que colabora na deslocação dos Llan de Cubel. Há também um acordo com a Câmara e com uma empresa de Vigo, aos quais se deve a vinda dos Matt Congrio. O festival é, como se vê, um bocado feito em termos de apoios externos dos países e das regiões celtas.
P. – Não há então por enquanto autonomia absoluta em termos organizativos?
J.M. – O Festival não tem de facto ainda autonomia. Para já não nos podemos comparar, por exemplo, ao Fantasporto que é organizado por uma associação própria. Recorde-se que o primeiro Festival Intercéltico foi organizado pelo Instituto Francês, no âmbito das suas actividades. O ano passado tudo surgiu na sequência da Semana da Bretanha. Neste momento, a Câmara é o principal financiador do Festival Intercéltico, no quadro de um programa de animação cultural e turística da cidade. Sem esquecer a própria revitalização do teatro ‘Rivoli’ [local onde decorrerão todos os espectáculos]. Quanto ao futuro, a Câmara comprometeu-se já a apoiar o festival do próximo ano. Depois é a incógnita levantada pelo período de eleições…
P. – Podemos depreender que tudo se continua a dever ainda ao esforço de um grupo de vontades isoladas, não havendo qualquer protocolo oficial que garanta a tal institucionalização do Festival?
J.M. – Acho que a questão é mais profunda do que isso, prendendo-se com uma política e um plano de actividades estabelecido pelo pelouro da Cultura e Animação da cidade, que dá prioridade às actividades culturais. O Festival Intercéltico faz parte desse plano, está lá consignado. Inflexões políticas à parte, como é evidente…
P. – Será possível levar parte dos espectáculos do “Intercéltico” ao Sul, e à capital, como acontece, por exemplo, com o Fantasporto?
J.M. – Este ano foi feita uma proposta à Câmara de Lisboa nesse sentido. Isso acabou por não ir para a frente porque o pelouro da Cultura da Câmara de Lisboa não parece ter grande vocação neste momento para organizar directamente espectáculos. Seria uma questão de encontrarmos outros interlocutores…
P. – O êxito das anteriores edições do festival deve-se me grande parte às chamadas “actividades paralelas”. O que está programado a este nível?
M.C. – Destaco, por exemplo, um “workshop” – um curso de aproximação À gaita galega, com a duração de cinco dias, proposto pelo grupo de teatro “Arte e Imagem” e orientado por um professor galego, Jesus Olimpio Geraldes Ryo. Haverá um diaporama sobre vários aspectos das nações célticas, e um videorama com música e imagens dos artistas intervenientes no festival. Tudo no Rivoli. Estão também agendadas uma exposição de instrumentos musicais populares do Norte de Portugal e da Galiza, nas instalações do Centro Regional de Artes Tradicionais (CRAT), ligada ao curso atrás referido e que documentará as várias fases de construção da gaita-de-foles, e outra, cedida pelo Arquivo Histórico do Porto, sobre o barco rabelo. Não faltarão, claro, as tendas de discos e de artesanato celtas.
P. – Ao contrário do ano passado – em que a escolha recaiu em artistas consagrados que, na prática, desiludiram, casos de Alan Stivell e dos Gwendal -, o programa deste ano parece mais seguro nesse aspecto, apesar de alguns nomes serem praticamente desconhecidos…
M.C. – A Câmara do Porto fez um grande investimento e acabou por dispor de um orçamento considerável. Foi feita uma série de contactos que, em certos países, obrigaram a uma selecção, como aconteceu com a Irlanda em que depois das hipóteses Four Men & A Dog e Ron Kavana, acabou por se optar por trazer os De Danann. Em relação à Bretanha aconteceu a mesma coisa com os Bleizi Ruz, escolhidos de um lote de seis grupos.
P. – A escolha de Maddy Prior não implicará um risco, depois do fracasso da sua apresentação no “Folk Tejo”?
M.C. – É quase um acto de vingança. A Maddy Prior é uma das grandes vozes da folk britânica e é preciso vingar a ausência de público a que foi votada no “Folk Tejo”.
P. – Existe alguma ligação temática entre os vários espectáculos?
R. – Este ano, pela primeira vez, essa ligação existe, sendo dado o privilégio à gaita-de-foles. Na próxima edição poderá ser a vez da guitarra portuguesa e do “bouzouki”, em destaque quer ao nível de actos musicais quer a nível de cursos, “workshops”, palestras, etc. A ideia será pôr músicos portugueses a dialogar com músicos estrangeiros.

Destaque:
Noite Galaico-Portuguesa Com “Bailia De Frores”
“Bailia De Frores”, espectáculo marcado para dia 3 de Abril no teatro Rivoli, é mais um projecto de Manuel Tentúgal, mentor do grupo Vai de Roda, que desta feita vai mais longe, compondo uma encenação musical que junta as heranças tradicionais galega e portuguesa. “Bailia de Frores”, assim mesmo, em galaico-português, seguirá um guião cuja temática gira, segundo Manuel Tentúgal, “à volta dos quatro elementos que relacionam Portugal com a Galiza: a terra, o mar, a saudade e a língua”.
Em palco vão estar músicos ligados ou não à música tradicional. “O objectivo é tentar contrariar a ausência de colaboração entre os músicos”, explica Tentúgal para quem é importante “despoletar esse confronto, por exemplo, entre violoncelistas e violinistas clássicos e um gaiteiro e coros tradicionais”.
Nos corredores e “foyers” do Rivoli, recriar-se-á o ambiente de uma feira medieval: “haverá máscaras, a participação dos “Bugios”, palhaços, cantadeiras, pauliteiros”. Depois, “tudo passará para o palco”, para um final em conjunto de todos os músicos envolvidos: a cantora galega Uxia, dois gaiteiros, um do Centro Cultural da Galiza e Paulo Marinho, dos Sétima Legião, as cantadeiras do Neiva, os pauliteiros do Orfeão Universidade do Porto, quatro sanfonineiros (Carlos Guerreiro, Fernando Meireles, Amadeu e o próprio Tentúgal) e membros dos Vai de Roda. Para o autor de “Terreiro das Bruxas”, “daqui poderá sair o germe de futuros supergrupos de música tradicional.

Programa
Dia 2:
Matt Congrio (Galiza)
Maddy Prior Band (Inglaterra)
Dia 3:
Llan de Cubel (Astúrias)
“Bailia de Frores” (Portugal)
Dia 4:
Bleizi Ruz (Bretanha)
De Danann (Irlanda)
Todos os espectáculos no Teatro Rivoli, no Porto

Vários – “III Edição Do Festival Intercéltico Arranca Em Abril No Porto – Celtas Em Manobras” (festivais / intercéltico)

Cultura >> Quarta-Feira, 11.03.1992


III Edição Do Festival Intercéltico Arranca Em Abril No Porto
Celtas Em Manobras


Galiza, Astúrias, Bretanha, Inglaterra e Irlanda são as regiões contempladas pelo programa do terceiro Festival Intercéltico, a realizar entre 2 e 5 de Abril na cidade do Porto. De Danann e Maddy Prior são os nomes de cartaz. Portugueses e galegos juntam-se sob a batuta de Manuel Tentúgal numa “Bailia de Frores” que se prevê festiva. O Porto volta a erguer o ceptro celta.



A pouco menos de um mês do seu início, o “Intercéltico” caminha para a consagração. Uma programação criteriosa e o cuidado, da parte da organização, em enquadrar os concertos num contexto cultural mais lato, garantem à partida o êxito da iniciativa. Mário Correia, do “Mundo da Canção”, Júlio Moreira, do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto e o músico Manuel Tentúgal revelaram ao PÚBLICO, em primeira mão, pormenores do que vai acontecer.
P. – Chegada à 3ª edição, o Intercéltico está em vias de se institucionalizar. Que garantias e apoios há nesse sentido?
MÁRIO CORREIA – Já na edição do ano passado a Câmara do Porto manifestara a intenção de assegurar, por todos os meios que estivessem ao seu alcance, essa institucionalização. É evidente que a Câmara só por si não tem meios para o fazer. Para tal torna-se necessária a conjugação de esforços e de apoios de outras entidades.
JÚLIO MOREIRA – Para o ano continuaremos a ter o apoio do Instituto Francês que se comprometeu a trazer todos os anos um grupo da Bretanha indicado pela organização. O ano passado tivemos a colaboração da Junta da Galiza. Este ano coube a vez do Principado das Astúrias que colabora na deslocação dos Llan de Cubel. Há também um acordo com a Câmara e com uma empresa de Vigo, aos quais se deve a vinda dos Matt Congrio. O festival é, como se vê, um bocado feito em termos de apoios externos dos países e das regiões celtas.
P. – Não há então por enquanto autonomia absoluta em termos organizativos?
J.M. – O Festival não tem de facto ainda autonomia. Para já não nos podemos comparar, por exemplo, ao Fantasporto que é organizado por uma associação própria. Recorde-se que o primeiro Festival Intercéltico foi organizado pelo Instituto Francês, no âmbito das suas actividades. O ano passado tudo surgiu na sequência da Semana da Bretanha. Neste momento, a Câmara é o principal financiador do Festival Intercéltico, no quadro de um programa de animação cultural e turística da cidade. Sem esquecer a própria revitalização do teatro ‘Rivoli’ [local onde decorrerão todos os espectáculos]. Quanto ao futuro, a Câmara comprometeu-se já a apoiar o festival do próximo ano. Depois é a incógnita levantada pelo período de eleições…
P. – Podemos depreender que tudo se continua a dever ainda ao esforço de um grupo de vontades isoladas, não havendo qualquer protocolo oficial que garanta a tal institucionalização do Festival?
J.M. – Acho que a questão é mais profunda do que isso, prendendo-se com uma política e um plano de actividades estabelecido pelo pelouro da Cultura e Animação da cidade, que dá prioridade às actividades culturais. O Festival Intercéltico faz parte desse plano, está lá consignado. Inflexões políticas à parte, como é evidente…
P. – Será possível levar parte dos espectáculos do “Intercéltico” ao Sul, e à capital, como acontece, por exemplo, com o Fantasporto?
J.M. – Este ano foi feita uma proposta à Câmara de Lisboa nesse sentido. Isso acabou por não ir para a frente porque o pelouro da Cultura da Câmara de Lisboa não parece ter grande vocação neste momento para organizar directamente espectáculos. Seria uma questão de encontrarmos outros interlocutores…
P. – O êxito das anteriores edições do festival deve-se me grande parte às chamadas “actividades paralelas”. O que está programado a este nível?
M.C. – Destaco, por exemplo, um “workshop” – um curso de aproximação À gaita galega, com a duração de cinco dias, proposto pelo grupo de teatro “Arte e Imagem” e orientado por um professor galego, Jesus Olimpio Geraldes Ryo. Haverá um diaporama sobre vários aspectos das nações célticas, e um videorama com música e imagens dos artistas intervenientes no festival. Tudo no Rivoli. Estão também agendadas uma exposição de instrumentos musicais populares do Norte de Portugal e da Galiza, nas instalações do Centro Regional de Artes Tradicionais (CRAT), ligada ao curso atrás referido e que documentará as várias fases de construção da gaita-de-foles, e outra, cedida pelo Arquivo Histórico do Porto, sobre o barco rabelo. Não faltarão, claro, as tendas de discos e de artesanato celtas.
P. – Ao contrário do ano passado – em que a escolha recaiu em artistas consagrados que, na prática, desiludiram, casos de Alan Stivell e dos Gwendal -, o programa deste ano parece mais seguro nesse aspecto, apesar de alguns nomes serem praticamente desconhecidos…
M.C. – A Câmara do Porto fez um grande investimento e acabou por dispor de um orçamento considerável. Foi feita uma série de contactos que, em certos países, obrigaram a uma selecção, como aconteceu com a Irlanda em que depois das hipóteses Four Men & A Dog e Ron Kavana, acabou por se optar por trazer os De Danann. Em relação à Bretanha aconteceu a mesma coisa com os Bleizi Ruz, escolhidos de um lote de seis grupos.
P. – A escolha de Maddy Prior não implicará um risco, depois do fracasso da sua apresentação no “Folk Tejo”?
M.C. – É quase um acto de vingança. A Maddy Prior é uma das grandes vozes da folk britânica e é preciso vingar a ausência de público a que foi votada no “Folk Tejo”.
P. – Existe alguma ligação temática entre os vários espectáculos?
R. – Este ano, pela primeira vez, essa ligação existe, sendo dado o privilégio à gaita-de-foles. Na próxima edição poderá ser a vez da guitarra portuguesa e do “bouzouki”, em destaque quer ao nível de actos musicais quer a nível de cursos, “workshops”, palestras, etc. A ideia será pôr músicos portugueses a dialogar com músicos estrangeiros.

Destaque:
Noite Galaico-Portuguesa Com “Bailia De Frores”
“Bailia De Frores”, espectáculo marcado para dia 3 de Abril no teatro Rivoli, é mais um projecto de Manuel Tentúgal, mentor do grupo Vai de Roda, que desta feita vai mais longe, compondo uma encenação musical que junta as heranças tradicionais galega e portuguesa. “Bailia de Frores”, assim mesmo, em galaico-português, seguirá um guião cuja temática gira, segundo Manuel Tentúgal, “à volta dos quatro elementos que relacionam Portugal com a Galiza: a terra, o mar, a saudade e a língua”.
Em palco vão estar músicos ligados ou não à música tradicional. “O objectivo é tentar contrariar a ausência de colaboração entre os músicos”, explica Tentúgal para quem é importante “despoletar esse confronto, por exemplo, entre violoncelistas e violinistas clássicos e um gaiteiro e coros tradicionais”.
Nos corredores e “foyers” do Rivoli, recriar-se-á o ambiente de uma feira medieval: “haverá máscaras, a participação dos “Bugios”, palhaços, cantadeiras, pauliteiros”. Depois, “tudo passará para o palco”, para um final em conjunto de todos os músicos envolvidos: a cantora galega Uxia, dois gaiteiros, um do Centro Cultural da Galiza e Paulo Marinho, dos Sétima Legião, as cantadeiras do Neiva, os pauliteiros do Orfeão Universidade do Porto, quatro sanfonineiros (Carlos Guerreiro, Fernando Meireles, Amadeu e o próprio Tentúgal) e membros dos Vai de Roda. Para o autor de “Terreiro das Bruxas”, “daqui poderá sair o germe de futuros supergrupos de música tradicional.

Programa
Dia 2:
Matt Congrio (Galiza)
Maddy Prior Band (Inglaterra)
Dia 3:
Llan de Cubel (Astúrias)
“Bailia de Frores” (Portugal)
Dia 4:
Bleizi Ruz (Bretanha)
De Danann (Irlanda)
Todos os espectáculos no Teatro Rivoli, no Porto

Maddy Prior + McCalmans + June Tabor + Davy Spillane – “Folk Tejo: Som Quase Estragou A Festa” (concertos / festivais / folk)

Secção Cultura Segunda-Feira, 03.06.1991


Folk Tejo
Som Quase Estragou A Festa



Lisboa iniciou as suas festas juninas ao som da música folk. O cartaz de sábado era aliciante: duas vozes femininas de chegar ao céu, três escoceses dos copos e um gaiteiro de cortar o fôlego. Na luta contra o som, péssimo, só June Tabor venceu e comoveu. Mas o público queria era dar ao pé.

Música folk, tradicional, étnica, nos últimos tempos, tem sido um fartote. Lisboa aderiu à onda, com o Tejo ao lado e as eleições à porta. Coliseu dos Recreios. Cerca de meia casa, composta pelos indefectíveis do género, mais os curiosos, mais aqueles que vão a todas. Os primeiros saíram com um sabor a frustração. Os curiosos aguçaram ainda mais a curiosidade. Os outros não devem ter percebido nada, até porque o som não deixava.
Um grupo nacional de zés-pereiras, gaiteiros e tocadores de bombo circulou pelas artérias junto ao recinto, antes de subir ao palco para uma actuação, no mínimo bombástica.
Maddy Prior, voz lendária da cena folk britânica, estandarte dos Steeleye Span e actualmente mais apaixonada do que nunca pela música antiga (no seio dos Carnival Band) e pelo marido, desiludiu, sem que a culpa tivesse sido inteiramente sua. Entre dois amores, optou por trazer o marido – Rick Kemp – e cantar umas melodias que seriam certamente bonitas, se acaso fosse possível perceber alguma nota. Não há, de facto, adjectivos que cheguem para desancar um som exageradamente amplificado, empastelado, impróprio para um comício quanto mais para um concerto de música. Salavaram-se os momentos em que Maddy Prior, sozinha, sentada à beira do palco, ou acompanhada unicamente pelo piano e pelo contrabaixo, deixou perceber a voz maravilhosa que realmente tem.

A Emoção Da Cerveja

Das terras altas da Escócia, os McCalmans, trio já veterano nestas andanças, chegaram de guitarras e latas de cerveja em punho para pôr toda a gente aos pulos, com as suas harmonias vocais emocionadas e toda a fluência que só o álcool é capaz de proporcionar. O homem da mesa de mistura, experimentador nato, desta vez apostou tudo nos agudos metálicos, testando a capacidade de resistência dos tímpanos às frequências mais elevadas. Os escoceses acabaram por perceber – no “encore” da praxe dispensaram a amplificação, cantando abraçados, eufóricos e voltando a dar um empurrãozinho publicitário à tal marca de cerveja.
Depois, chegou o momento mais alto da noite, graças à voz e postura sublimes de outra grande senhora da Folk, June Tabor. Acompanhada apenas por dois violinistas, tornou claro que a verdade do canto tradicional exige silêncio e contensão. Foi até ao fundo, contando e cantando histórias trágicas de amor e ódio, de alegria e morte. Houve quem não compreendesse e assobiasse, exigindo o que nessa altura soaria despropositado – a dança e o delírio telúrico. June Tabor só no fim soltou as pontas à rede de sortilégios – saltando e batendo palmas, como uma menina que por dentro continua a ser – não sem que antes a sala escurecesse e calasse vergada a uma arrebatadora interpretação de uma canção de Brecht. O próprio som, como por artes mágicas, melhorou.

Música “A Metro”

Davy Spillane, gaiteiro de reconhecidos méritos, revelou-se mestre de duas coisas: das suas “uillean pipes” (que maneja com a agilidade de quem não deve fazer outra coisa) e na arte de música “a metro”. O irlandês mistura tudo – os blues, o rock ‘n’ rol, a country e a música de baile. A solo, mostrou-se realmente “virtuose”, interpretando, entre outros, um tema dedicado a esse outro grande gaiteiro que é Paddy Moloney, dos Chieftains. O pior foi o resto, as “desbundas” colectivas, o tom piroso da guitarra, embevecida nos acordes de “samba pa ti” e se calhar na lembrança de convívios que decerto deve ter havido também lá pela Irlanda. Davy não quis saber de purismos e lançou-se a mil à hora, tocando as suas “pipes” como um danado. Em frente ao palco, os mais entusiastas entregaram-se, extasiados, aos prazeres da dança.
Quem não deve ter sentido prazer nenhum foi aquele jovem espancado e atirado pela escada abaixo, já perto do fim, por três “agentes da autoridade, apenas por ter pedido que o deixassem entrar. Final triste para um acontecimento que se propõe dar um ar mais saudável e civilizado à capital.