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Entra – “Ballet” + Ove Johansson – “In A Different World” + Jormin, Gustaffson, Jormin – “Opus Apus” + Susanna Lindeborg – “Susanna Lindeborg” + Staffan Svensson – “Surge For the Time Being”

12 de Novembro 1999
JAZZ


Jazz no congelador

Entra
Ballet (6)
Ove Johansson
In a Different World (8)
Jormin, Gustaffson, Jormin
Opus Apus (6)
Susanna Lindeborg
Susanna Lindeborg (?)
Surge
For the Time Being (7)
LJ, distri. A Orelha de Van Gogh


entra

A LJ é uma editora de novo jazz com sede na Suécia cujo catálogo passou a estar disponível em Portugal. Abre-se, deste modo, uma nova frente de produção e divulgação de um segmento musical até há pouco exclusivamente reservado à EDM, juntando-se o novo selo à Rune Grammofon norueguesa, na área da música electrónica, e à Xource/Resource, também sueca, mais voltada para a world music e para as reedições.
Do pacote recém-chegado às nossas mãos destaca-se o álbum, primeiro a solo, do saxofonista Ove Johansson, patrão da editora, cuja discografia com o grupo Mwendo Dawa ascende já aos 18 álbuns. Em “In a Different World” Johansson combina o saxofone tenor com o sintetizador e esculturas sonoras, numa aliança entre a electro-acústica, o fraseado solitário e a criação de ambiências electrónicas com epicentro entre a obra solitária de John Surman e o experimentalismo, numa veia semelhante a Hans Jakob-Draminsky. Esquemático e conceptual, “In a Different World” explora paisagens futuristas despojadas do blues e a exigir novas formas de entender o jazz.
De igual modo fortemente apoiada na tecnologia electrónica, “Solo”, da pianista Susanna Lindeborg, também elemento preponderante nos Mwendo Dawa e fundadora do grupo feminino Salamander, propõe um registo diverso do do saxofonista, alternando solos de piano com devaneios de pop-jazz sintético, algures entre a new age minimal e o exibicionismo primário em solos e sequenciações rítmicas efectuados em sintetizadores analógicos. De audição agradável, mas musicalmente conformista, a música de Lindeborg está longe da classe com que Anette Peacock ou Carla Bley, duas mulheres do jazz, tocaram o universo da pop.
“Opus Apus” é o trabalho mais “duro” deste lote de discos. Nele o trio Christian Jormin (bateria e percussão), Mats Gustaffson (companheiro, entre outros, de Barry Guy, Paul Lovens e Derek Bailey e ultimamente bastante requisitado pela cena pós-rock de Chicago, nos saxofones e flautofone) e Anders Jormin (parceiro de Charles Lloyd e Don Cherry, no baixo e violoncelo) pautam o seu discurso por uma aproximação ambiental ao free jazz e pela criação de um tempo em distensão construído sobre lentas metamorfoses tímbricas e subtis oscilações na improvisação. Tudo decorre lentamente e quase sempre na sombra. Sobre texturas horizontais do baixo e do violoncelo, o sax entrega-se a divagações e convulsões circulares, enquanto a bateria entra e sai de cena em solos ou apontamentos. Uma música marcada pela tensão, que, apesar de os temas terem por título várias designações de aves, em latim, nunca chega verdadeiramente a descolar.
Excesso de formalismo é também o principal defeito de “Ballet”, dos Entra, e “For the Time Being” dos Surge, dois álbuns absolutamente compreendidos entre os parâmetros da ECM. Em ambos os discos é nota dominante o trompete de Staffan Svensson. Tão tecnicamente perfeito como emocionalmente frio. Mas se “Ballet” poderia ser, pelo menos em teoria, motivo de múltiplas conversas do trompete com o saxofone de Thomas Gustafson e os teclados de Harald Svensson, com a base rítmica entregue ao baixo de Anders Jormin e à bateria de Audun Kleive, acaba por ser no formato trio dos Surge que Staffan Svensson encontra os parceiros que melhor enquadram a sua tendência para o protagonismo. Sobretudo os teclados de Bo Wiklund conferem a “For the Time Being” uma variedade e riqueza de desenhos que em “Ballet” depressa se esgotam na escassez de motivos. O jazz que vem do frio tem dificuldade em descongelar.