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Jethro Tull – “A Little Light Music”

Pop Rock >> Quarta-Feira, 14.10.1992


Jethro Tull
A Little Light Music
CD, 2xLP, Chrysalis, distri. EMI – Valentim de Carvalho



Os dinossauros não morrem? Aparentemente não. Ou, se morrem, depois ressuscitam. O século XX aproxima-se do fim e eles continuam a proliferar. Os Jethro Tull vão andando, trôpegos é verdade, Ian Anderson já deve ter uma certa dificuldade em tocar flauta sobre uma perna só, mas enfim, vão andando. Com 24 anos de vida, 19 álbuns de originais gravados e um passado às costas que afinal não parece difícil de suportar.
“A Little Light Music”, gravado ao vivo na Europa, dá a ouvir palmas, os músicos (os fundadores Anderson e Martin Barre, mais David Pegg e Dave Mattacks, ambos ex-Fairport Convention) em forma razoável e as músicas do costume: rhythm ‘n’ blues sinfónico, baladas em tons medievais (“Minstrel in the Gallery”, “Songs from the Woods” e “Heavy Horses” não eram maus álbuns…), solos para todos os gostos e uma total falta de imaginação. O primeiro lado é mais eléctrico, o segundo e o terceiro mais acústicos e o último acaba com o clássico “Locomotive breath”. Ian Anderson é que já não tem propriamente o fôlego de uma locomotiva…
“A Little Light Music” não ofende os órgãos auditivos (nem os Jethro Tull têm já força para ofender quem quer que seja), apresentando até a vantagem de poder proporcionar algumas horas de sono. (4)

Jethro Tull – “Christmas Album”

(público >> y >> pop/rock >> crítica de discos)
31 Outubro 2003


JETHRO TULL
Christmas Album
R&M, distri. Universal
7|10



Boas notícias para os admiradores dos Jethro Tull: o grupo está de boa saúde. Não tem sido fácil sobreviver à “morte anunciada” (e há quantos anos vem sido anunciada!…) do rock progressivo mas a banda de Ian Anderson continua a aguentar a pé firme (o que também não será fácil, sabendo-se da preferência do flautista para se firmar sobre uma perna só…). “Christmas Album” evidencia o som clássico do grupo, sem cedências aos modos de produção atual, se excetuarmos “Another Christmas song”, único exercício de estúdio “neo prog”, a contrastar com o tom acústico das restantes 15 canções. Nestas, Anderson canta e toca flauta como um herói, retomando a velha veia folk, com pinceladas Fairport Convention, em “Holly herald”, ou numa magnífica “A Christmas song”, a par de “Last man at the party” e “First snow on Brooklyn”, temas a merecerem entrada para a galeria dos clássicos do grupo. A faceta “jazzy” é outro selo de garantia de um álbum que, evitando a nostalgia, apresenta todavia as marcas de uma melancolia terna, através da inclusão de uma nova versão do antigo instrumental “Bourée”.



Jethro Tull – “Thick as a Brick”

Pop Rock

18 Julho 1997
reedições


Jethro Tull
Thick as a Brick (8)
Emi 100, distri. EMI – VC


jt

À semelhança do que já acontecera com “Aqualung”, também “Thick as a Brick” volta agora a ser editado, com direito a masterização, nova embalagem – que inclui a versão completa de 28 páginas do falso jornal “St. Cleve Chronicle”, parte integrante da edição original em vinil – e uma gravação ao vivo, inédita, de 11’48’’, do título-tema, realizada em 1978 no Madison Square Garden, bem como uma entrevista com vários elementos do grupo. A presente reedição insere-se num pacote mais vasto, com outros artistas, de celebração dos 100 anos de existência do selo EMI. Se o som remasterizado de “Aqualung” deixava algo a desejar, ganhando em ênfase, mas perdendo definição em relação à versão anterior em compacto na Chrysalis, o mesmo não acontece com “Thick as a Brick”, em que este problema não existe.
“Thick as a Brick”, com data de primeira edição de 1972, é o segundo álbum conceptual dos Jethro Tull, em que ao tema central de “Aqualung”, a religião, se sucede a simulação do poema épico composto pelo menino prodígio Gerald (Little Milton) Bostock, de oito anos, referido, aliás, no próprio disco, como autor de todas as letras. À época, muita gente engoliu a história, de tal forma era conseguida a verosimilhança. A primeira página do falso jornal, escrito e impresso especialmente para o efeito, chegava ao ponto de incluir uma foto do pequeno génio, recebendo o prémio pela sua composição. “Little Milton” viria posteriormente, anunciava ainda o mesmo jornal, a ser desclassificado, em virtude de uma equipa de psiquiatras lhe ter diagnosticado desequilíbrios emocionais graves, os quais o teriam levado a escrever o seu longo poema “Thick as a Brick”, onde são perceptíveis atitudes perniciosas em relação à vida, a Deus e ao país.
É óbvio que Ian “flautista numa perna só” Anderson retomava aqui algumas das suas obsessões, já abordadas em “Aqualung”, mas amplificando a escala das suas ambições, tanto filosóficas como musicais. Para muitos, “Thick as a Brick”, com o seu tema único, dividido em múltiplos andamentos e variações, é o melhor álbum dos Jethro Tull, da fase posterior ao rhythm’n’blues progressivo dos três primeiros, “This Was” (de 1968), “Stand up” (1969) e “Benefit” (1970). Obra típica da fase dourada do progressivo, nela Ian Anderson dá largas à sua imaginação, criando melodias que interligam e intercalam mutuamente, num complexo jogo de arranjos que virá a agudizar-se ainda mais no álbum seguinte, “A Passion Play” (seguindo a mesma estrutura base, de um único tema separado por secções), quanto a nós, aquele em que as capacidades de Ian Anderson melhor se adaptaram aos cânones do progressivo. Em “Thick as a Brick”, as frases melódicas recorrentes, as vocalizações trovadorescas de Anderson e os teclados omnipresentes de John Evan criam uma trama de sugestões e ideias que resistiram até hoje ao desgaste do tempo.
“Thick as a Brick” é um trabalho fundamental dos anos 70, quando todos os excessos eram permitidos, ainda para mais enriquecido pelos pormenores atrás apontados, de acordo com uma estratégia editorial que, estamos em crer, se irá prolongar pela obra posterior do grupo.